“A não-violência: estilo de uma política para a paz”

Postado por: Dom Rodolfo Luís Weber

Compartilhe

As poucas horas do ano de 2017 registram uma grande quantidade de cenas de violência e um impressionante números de mortos. Chamou-me atenção uma frase que li no final do ano passado: “ainda vamos ter saudades de 2016”. Expressão cheia de ironia, mas que pode se tornar verdadeira se as pessoas e a sociedade se renderem ou se conformarem passivamente à violência ou reproduzirem um estilo de vida violento.

No dia 1º de janeiro de 1967 o papa Paulo VI publicou uma mensagem de paz, fazendo desta data o Dia Mundial da Paz. Cada ano os papas enviam uma mensagem de paz aos católicos e a todas as pessoas que quiserem se associar a esta causa. A mensagem do papa Francisco deste ano teve como foco: “A não-violência: estilo de uma política para a paz”. O pontífice inicialmente deseja a paz a cada pessoa e, a seguir, propõe a não-violência, inspirada no modo de viver de Jesus Cristo. A presente reflexão intenciona repercutir a mensagem do papa Francisco.

“Não é fácil saber se o mundo de hoje seja mais ou menos violento que o de ontem, nem se os meios modernos de comunicação e a mobilidade que caracteriza a nossa época nos tornem mais conscientes da violência ou mais rendidos a ela”, questiona-se o papa. De fato, vivemos “uma terrível guerra mundial aos pedaços”, como as guerras entre países, terrorismo, criminalidade, ataques imprevisíveis realizados pelas mais diferentes motivações, tráfico humano, violência familiar, devastação ambiental.

O tempo de Jesus também era de violência. Mas Ele não se rendeu a este estilo de vida e traçou o caminho da não-violência. Pregou o amor que se estende até aos inimigos, não aceitou ser defendido pela espada de Pedro e, por fim, perdoou os que o matavam.

Também mostrou que o coração humano é conflituoso. “Pois é de dentro do coração humano que saem as más intenções: imoralidade sexual, roubos, homicídios, adultérios, ambições desmedidas, perversidades; fraude, devassidão, inveja, calúnia, orgulho insensatez” (Marcos 7, 21). Reconhecer e assumir que cada um carrega uma dose de violência é necessário para mudar de postura e tornar-se instrumento de paz, como nos lembra São Francisco de Assis: “A paz que anunciais com os lábios, conservai-a ainda mais abundante nos vossos corações”

Pode parecer que “a não-violência signifique rendição, negligência e passividade, mas, na realidade, não é isso”. Temos na história tantos exemplos de líderes, de diferentes áreas, que assumiram esta bandeira alcançando grandes resultados. Convencer-se que a não-violência é mais poderosa que a violência é um desafio cotidiano e permanente.

“Se a origem donde brota a violência é o coração humano, então é fundamental começar por percorrer a senda da não-violência dentro da família”, nos provoca o papa Francisco. No Brasil, temos como fator positivo a lei “Maria da Penha” para proteger as vítimas, mas a necessidade desta lei é uma triste denúncia da violência familiar. Todas as soluções de força, muitas delas com mortes, para resolver os conflitos familiares devem ser superadas “com o diálogo, o respeito, a busca do bem do outro, a misericórdia e o perdão. A partir da família, a alegria do amor propaga-se pelo mundo, irradiando para toda a sociedade”.

A mensagem termina com um apelo papal: “No ano de 2017, comprometamo-nos, através da oração e da ação, a tornar-nos pessoas que baniram dos seus corações palavras e gestos de violência e a construir comunidades não-violentas, que cuidem da casa comum. Nada é impossível, se nos dirigimos a Deus na oração. Todos podem ser artesãos da paz”.

Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo

Leia Também Várias nações, um só povo Os Traumas de Final de Ano Vigiai e esperai! Como vencer