Certamente
muitos ficaram chocados com a veiculação do diálogo entre alguns profissionais
da medicina sobre a enfermidade da senhora Marisa Letícia Silva, ex-primeira
dama do Brasil, falecida no sábado passado.
Um dos envolvidos sugeria um procedimento antiético, para não dizer
crime contra a vida.
O episódio sugere duas breves reflexões.
Primeira, os diálogos dos profissionais da medicina revela o grau de despreparo ético e humano de alguns médicos formados nas nossas Universidades do país. Temos experiências marcantes de profissionais que marcaram nossas vidas pelo cuidado e carinho dispensados em momentos de enfermidade. Estes merecem todo nosso respeito e consideração. Contudo, a preocupação em relação ao nível de formação ética e humana de alguns profissionais da saúde existe e tem sentido.
No caso daquele profissional que sugeria a abreviação da vida da enferma: alguma pessoa, em sã consciência, se confiaria ou confiaria algum familiar aos cuidados de alguém com este nível de desrespeito pelo ser humano? A medicina, junto com a técnica envolve o cuidado, o afeto, que são também terapêuticos. Parece-me que estes valores estão ausentes do processo formativo dos nossos futuros médicos. O avanço da Ciência em termos de alívio da dor e cuidado com a vida compreende também o aprofundamento dos valores necessários à pessoa que cuida de um enfermo, seja qual for seu nível profissional, afinal são seres humanos cuidando de humanos fragilizados por enfermidade. A Doutrina Social da Igreja afirma que a pessoa humana, imagem de Deus, dever ter a sua dignidade preservada acima de tudo (DSI 111). Mais: cada um é responsabilizado como guardião da vida do outro (DSI 112). É pecado toda e qualquer ação que viola estes princípios.
A segunda reflexão diz respeito à cultura do ódio que tem se disseminado pelas redes sociais, envolvendo diferentes âmbitos da vida social, seja político, opção sexual, origem étnica, pertença religiosa, visão de mundo, etc. Sobre isso existem várias hipóteses. Uns afirmam que já existia, como que velado, e que as redes sociais permitiram a divulgação de tal realidade. Outros afirmam que o caminho eletrônico aferiria relativa proteção aos disseminadores de ódio. Outros dizem que é o debate acontecendo, mas com certos exageros. Entretanto, causa preocupação o grau de violência, ódio e intolerância que circula nas redes sociais e também nas vias públicas. Permanece a regra de “não levar desaforo para casa” ou do “olho por olho dente por dente”.
Levamos séculos para superar situações de barbárie graças aos códigos de leis e aos processos de humanização, frutos de consensos sociais. Todavia, este Brasil que se revela dá a ideia de um retrocesso. O que fazer? Não retroceder!