Após a derrubada
de grande parte das araucárias existentes, na região de Ernestina, os novos
colonos lançaram-se à plantação de mandioca. Em sua origem, na grande região do
Taquari, já estavam habituados a produzir a farinha de mandioca para o sustento
da família. Não fabricavam muito, pois o consumo era muito pouco. Conheciam também
a técnica da fabricação do polvilho, para a fabricação das roscas, que
substituía o pão, com muita vantagem.
Ao chegar às novas terras de Ernestina, pela proximidade do grande centro de comércio e consumo situado em Passo Fundo, a construção de atafonas se alastraram rapidamente. Aos poucos havia centenas em toda a região, constituindo-se a fonte de renda da família. A terra era nova, muito pródiga na produção de alimentos. Na época, não se lançaram à produção de milho, pois, não havia comércio para este produto. A plantação se destinava unicamente para a engorda de alguns porcos e para alimentação das galinhas e vacas de leite. Os bois, cavalos ou mulas eram preparados para a locomoção das carroças e carroções maiores.
Em quê consistiam as atafonas? Eram pequenos moinhos movidos manualmente, ou por água ou por tração animal, ou seja, por cavalos, mulas ou bois. As estruturas de madeira possuíam uma prensa e moedor utilizadas para fazer farinha de mandioca. Nas pequenas propriedades produziam em torno de seis ou sete sacos de farinha por dia. Mais tarde, ao colocar um motor elétrico, produziam um pouco mais, poupando o difícil trabalho de tratar os animais e trocá-los seguidas vezes durante o serviço diário. Mesmo assim, com tanto trabalho manual, havia propriedades que possuíam mais de mil sacos de farinha em estoque.
O trabalho nas atafonas iniciava cedo, em torno das cinco horas da manhã. O serviço não era muito prazeroso, pois, era um trabalho com mercadoria pesada, e durante o tempo do inverno, a dificuldade maior era lidar com água.
Nossos antepassados, especialmente entre os anos de 1850 até 1930, lidavam com essa tecnologia obsoleta para a produção de farinha, mas de suma importância para a economia do Rio Grande do Sul. Nada era fácil para quem não veio conhecer estradas asfaltadas, energia elétrica, tratores e as variadas máquinas agrícolas posteriores. Não vieram conhecer a cultura extensiva do arroz, da soja, do milho, do trigo, aveia, centeio, girassol, canola etc. Sem falar das novas pesquisas que possibilitaram produção maior, com todas estas variadas sementes. E sem os recursos da medicina de nosso tempo, enfrentaram o desafio pela vida, encarando doenças que hoje não assustam mais. Não podemos desmerecer nossos ancestrais, que nos legaram seu grande amor ao trabalho, à família e suas tradições religiosas.
Durante muitos anos, a maior riqueza produzida na agricultura familiar, era a farinha de mandioca. Faziam as mudas de seus caules, cobrindo-as com terra, para que a geada não as atingisse. Em cada hectare plantavam mais ou menos umas 10 mil mudas, deixando um metro de distância em cada pé. E deixando-as para o corte, no segundo ano, rendiam bem mais do que dois quilos por planta.
Mais uma planta, originária da América, foi levada para o sustento da população mundial. Podem chamá-la de mandioca, ou macaxeira, ou aipim. Suas raízes continuam sendo, em nosso tempo de novas conquistas, valioso alimento, quer em finos manjares ou nos pratos populares dos agricultores.
Foto: Atafona na propriedade de Erwin e Frieda Schneider, na Posse Barão, Ernestina.