Os primeiros habitantes de Ernestina e das posses que a circundavam, era extrair madeira para a construção de suas casas. Num primeiro momento, não havia nenhuma preocupação com o luxo e boa aparência das casas, pois todos eram pessoas que iniciavam uma nova vida. Preocupavam-se pela sobrevivência e também pela subsistência, organizando pequenas hortas caseiras, bem como lavouras, segundo a necessidade dos animais domésticos.
A casa do migrante não possuía pintura, que sempre deixavam para um segundo momento, esperando melhores condições financeiras para organizar a vida familiar, oferecendo primeiramente o mínimo necessário para a recém-formada família. Contratavam um carpinteiro mais experiente para dirigir os trabalhos de construção. Mas não faltavam as pessoas que se organizavam em mutirão para erguê-la com rapidez e segurança. Na falta de telhas, cobriam-na com tabuinhas lascadas da abundante madeira existente. Muitas famílias, todavia, preferiam construir um galpão maior, repartindo a parte da residência da família, com uma divisória para separar os animais e os produtos colhidos na pequena lavoura inicial. Num segundo momento, decidiam o melhor local para a construção da casa e outras dependências para os animais domésticos.
Não foi muito fácil a derrubada dos pinheiros, com as serras, machados e pequenos serrotes da época. Os dentes da serra precisavam de contínuo cuidado, como o serviço de afiar e travar. Não se pode pensar nas facilidades de nosso tempo. Não havia dentes com a proteção da “vídea” ou motosserras devastadoras de nossa época. Além disso, para carregar uma tora num caminhão, seria muito fácil imaginar um caminhão guincho realizar essa obra. Mas era um serviço manual, lento, coordenado, fazendo subir vagarosamente a tora sobre os caibros colocados junto ao chão e a caixa do caminhão. E as cunhas calçadas debaixo das toras, seguravam a pesada madeira, até alcançar a caixa do caminhão ou carroção. E assim, as toras seguiam até às serrarias, deixando o espaço livre para um novo corte de árvores. Neste ponto havia alguns especialistas na derrubada do mato e outros responsáveis pelo carregamento e o transporte. Cada um dava conta de seu trabalho, com muita maestria e habilidade.
Algo que muitas vezes as pessoas de nosso tempo não se dão conta, se refere ao grande serviço de limpeza que exigia cada área desmatada. Não era somente o fogo que realizava essa operação, mas também a mão de obra que exigia o recolhimento dos nós de pinho, espalhados pelo chão. Não era possível trabalhar a terra sem antes recolher e amontoar os milhares de nós presentes sobre a terra e outros ainda nos caules podres dos centenários pinheiros, já decompostos pelo chão. Nossas matas enfrentaram, ao longo dos séculos, muitas tempestades, tornados e ventanias. Muitos pinheiros descambaram ao chão. E como lembrança de sua majestosa imponência, sobressaindo altivamente sobre as matas, pagaram o preço de sua soberba, deixando apenas os nós de pinho, maciços como pedras, dispostos a fornecer um fogo de alto potencial calórico, fruto da paciência da natureza, conservada pela resina de seu tronco.
Com os primeiros lucros da venda de madeira, além da construção da casa e dos galpões, adquiriram cavalos, bois, charretes ou diligências. As mulheres também andavam de cavalo, mas receberam o conforto de um selim. Aos domingos, era comum vê-las cavalgando na redondeza, fazendo visitas às novas mães, cumprimentando-as pela maternidade, elogiando-as pela criança “mais linda do mundo”. Sovavam um bom chimarrão, fruto de erva nativa e de um soque caseiro. Os laços familiares se firmaram na convivência fraterna que animava a todos a viver com esperança de superação dos problemas da época.
Foto: Pedro Fett Sobrinho fixou residência em Ernestina, em
1904