Hoje os tempos são
diferentes daqueles de nossos antepassados que engordavam porcos como meio de
sustento da família. Os recursos para a engorda também eram mais difíceis do
que os atuais, quando não existia a ração e os remédios adequados. Hoje, tudo
já vem pronto e na medida certa. Cada um inventava o que mais lhe convinha ou
imaginava ser mais conveniente, conforme tradição dos antepassados.
Geralmente depois da engorda havia uma pequena concorrência para vender ao comerciante que oferecesse um preço melhor. A maioria dos criadores eram fregueses deste ou daquele comprador, com longa lista de compras já realizadas, em sua tradicional “venda”. Assim, na caderneta constava longa lista de produtos já adquiridos anteriormente, com a garantia de pagamento com a venda posterior dos porcos. Na verdade, a carga de porcos já estava penhorada.
O caminhão do comerciante encostava cedo, ao lado do chiqueiro, antes do primeiro trato. A forte buzina acordava o proprietário que vibrava com a chegada do credor, ainda confiante em algumas sobras de caixa.
A balança nivelada era certeza de peso justo. Para não levantar suspeitas, o comerciante se pesava por primeiro, já dizendo seu peso certo. Depois, o agricultor com toda sua filharada. Desfeitas as dúvidas, iniciava-se a pesagem dos bichos. O peso era anotado pelo mais letrado da prole. O comerciante aceitava somente o peso arredondado em quilos. Se desse meio quilo a mais, mandava arredondar para baixo, dizendo:
- Meio quilo, nem o diabo não quer!
E assim foi indo até a pesagem do último bicho imundo.
Todavia, o colono não conseguia entender a esperteza do comprador. Alguns dias depois, estando em sua casa de negócios, realizou diversas compras, todas de meio quilo. E ao sair com a sacola repleta de mercadorias de meio quilo, ouviu o comerciante gritar:
É para anotar?
- Não! - Respondeu o colono. - Meio quilo nem o diabo não quer.