Finalmente o compadre
resolveu liquidar uma velha dívida: Havia prometido, há muitos anos atrás,
fazer uma futura visita a seu afilhado. Veio de longe, de maneira improvisada,
na semana que o casal João e Maria tinham muitos afazeres. Foi acolhido com a
maior festa, que a gente humilde de nosso campo pode oferecer. Não sabiam por
quanto tempo ele ficaria hospedado na casa.
Desde a segunda feira, dia da chegada, todo seu tempo foi preenchido em mostrar isso ou aquilo, recordar em longas conversas, todos os fatos do passado, em comer um frango à caipira ou um assado de leitão. E assim, a semana toda, mesmo com diversos serviços por se fazer, o compadre foi tratado como boa visita que merecia o máximo respeito. À noite podia descansar o quanto quisesse e levantar a hora que bem entendesse.
Já na sexta-feira, repletos de serviços atrasados na lavoura, Maria sugeriu ao marido:
- Não sei mais o que cozinhar, nossa reserva está no fim. Não poderia convencer o compadre visitar outros parentes que ele tem na redondeza, pois acho que ele já está satisfeito com nossa acolhida?
- Sim! Vou falar com ele, hoje mesmo – concordou João.
Durante o dia, seu João explicou onde moravam seus parentes e conhecidos, que muito gostaria de receber também a visita dele. Concordou dizendo:
- Amanhã cedinho partirei. Vou levar muita saudade daqui, porque foi uma semana muito bonita.
Dia seguinte, o casal levantou mais cedo e ficaram proseando ao redor do fogão à lenha. Mas o compadre não levantava nunca. Seu João foi chamá-lo, batendo à porta do quarto:
- Bom dia!
E a resposta veio sonolenta e vagarosa de dentro do quarto:
- Bom dia!
- O sol já está brilhando! – acrescentou seu João
- Ah, o sol já está brilhando – repetia o compadre deitado na cama.
- O dia está bonito! – continuou seu João
- Ah, o dia está bonito – ecoava a voz do compadre, dentro do quarto.
E assim repetia as saudações, até que seu João falou, motivando-o a levantar-se:
- Meu galo já está cantando!
- Ah, o senhor tem um galo que está cantando?
- Sim! – Confirmou logo seu hospedeiro.
- Então vou ficar ainda hoje aqui, para aproveitar seu galo! – Arrematou o compadre.