A
data de vinte de novembro, dia da consciência negra, celebrado nesta semana
acentua um posicionamento político significativo por parte dos afro-brasileiros
que buscam melhores condições de vida, partindo de uma existência envergonhada,
consequência do racismo, para a luta por direitos, inclusive o direito de ser
negro.
Este posicionamento político é a resposta às negações infligidas ao povo negro ao longo da história, como forma de sustentação do sistema escravagista. Primeiramente negou-se a liberdade de ir e vir; negou-se o exercício do labor em liberdade. Acresceu-se a negação da religiosidade originária, esta taxada como coisa do demônio. Para completar o aniquilamento negou-se a expressão cultural. O padrão de beleza não era mais aquele aprendido nas terras africanas, mas o que seguia os critérios europeus. Assim tudo o que estava ligado ao negro recebia um acento negativo. E o nosso vocabulário explicita isso. Avaliemos as expressões: nuvem negra, poço negro, futuro negro, usadas no nosso cotidiano. Acentuam a negatividade em torno do negro.
Mesmo que tais negações tenham afetado profundamente a autoconsciência de “ser negro”, gerando em todo o povo, sobretudo nas crianças e jovens, a negação da pertença afro-brasileira, aconteceram diferentes reações em vista de um outro horizonte. Recordo aqui as irmandades, confrarias, clubes, articulações via jornalismo, teatro, música dentre outras. Permitiram um longo processo de enfrentamento do racismo e de recuperação da autoestima do povo negro. Este processo ainda não foi não concluído. Mais de três séculos de escravidão e de negação de uma cultura não serão superados com tanta facilidade. Exigem muita luta, articulação e conversão do povo brasileiro.
Neste sentido é importante a criação de políticas afirmativas nas áreas da educação, emprego e cultura. Não são esmolas, mas uma forma de reparação e justiça social. A nação brasileira tem uma grande dívida para com os negros e negras. Faz-se necessário saldá-la.
O dia da consciência negra tem então uma dimensão celebrativa e também de luta política. É o caminho necessário frente ao atual contexto social.