Há
anos tem sido denunciada a grave realidade de racismo no Brasil. O processo de
justificativa da escravidão dos negros deixou sequelas profundas na sociedade
brasileira. Fica evidente que esta chaga ainda não foi enfrentada de forma
consequente. O racismo não é apenas a ofensa subjetiva, por si só grave. O racismo gerou no Brasil, e tem mantido, uma
massa de miseráveis e excluídos que a cada dia lutam para se manterem vivos em
um país onde a cor da pele é item classificatório de maior ou menor
dignidade.
Nesta semana foi noticiado uma das consequências mais nefastas do racismo, a violência que atinge a juventude negra. Segundo o Atlas da Violência no Brasil lançado pelo Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas (IPEA) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o número de jovens negros, homens e mulheres, mortos de forma violenta é muito superior aos jovens não negros. Enquanto que nos outros grupos (brancos, amarelos, indígenas, segundo critérios do IBGE) a taxa de mortalidade diminui a dos jovens negros subiu. De cada 100 pessoas mortas de forma violenta 73 são negras.
O recorte geracional é importante. Há alguns anos setores ligados à juventude tem feito esta denúncia. Afirmam que há um verdadeiro genocídio da juventude negra. Estes jovens são do sexo masculino, de baixa escolaridade e moradores das periferias da cidade.
Estes jovens não estão nas universidades públicas, pagas com recursos do contribuinte. Seu acesso é dificultado já na fase do ensino fundamental, porque quando conseguem resistir na escola, recebem um ensino de baixa qualidade, salvo raras exceções. Infelizmente nossas universidades públicas são elitistas e nos acostumamos com a triste e equivocada ideia de ali não é lugar para os jovens negros. Por isso tanta resistência às políticas de cotas nas universidades, sustentadas pelo discurso da meritocracia, tão falacioso quanto o discurso de que não há racismo no Brasil. O exemplo citado acima explicita o quanto o nosso país é antidemocrático. Infelizmente, esta anti democracia revelada no racismo, tem gerado muitas mortes.
Os dados estão postos e revelam que temos muito para fazer em vista da superação da violência, que atinge a todos em geral, mas uma forma mais direta a população negra. O apoio e incentivo às políticas públicas de inclusão da população negra é um bom caminho. Não é o único, mas contribuirá de forma significativa para a superação da exclusão social gerada pelo racismo. Outro caminho está em nível de princípio. O dia em que nos reconhecermos como um país racista e que este racismo mata avançaremos muito na sua superação.