Num domingo à noite, depois de muitos trabalhos
pastorais, finalmente o padre estava sentado tranquilo na casa paroquial,
pensando em tudo que se passou naquele dia. Mas o sossego durou pouco. Tocou a
campainha. Deparou-se com um jovem, mais ou menos com a idade de seus vinte e dois
anos, que desejava falar com o padre.
- Padre, preciso falar porque tenho um problema! – Falou-me de maneira desesperada.
- Entre e vamos conversar!
Gemia e se segurava nas paredes e falava que tinha um problema. Logo na entrada se encontrava a sala de recepção e pedi para sentar. Todavia, ele caiu sobre um sofá, meio desmaiado, parecia que estava espumando, pois, não conseguia falar. Pensei para mim que havia bebido e se encontrava assim por efeito do álcool. Mas não era.
- Estou com um problema! – Repetiu-me novamente e outra vez caiu por cima do sofá.
- Fale! – Disse-lhe mais uma vez. – Conte seu problema. Vamos resolvê-lo.
O silêncio dele era irritante. Emudecera. Pensava para mim ser necessário chamar uma pessoa da diretoria da igreja. Mas nessa hora da noite, quem estaria disponível?
- Padre, padre – balbuciava ele. – Estou com um problema!
Deixei-o ali por uns instantes e me distraí em assuntos da secretaria paroquial. Depois de alguns minutos, finalmente se recuperou, sentou-se e disse, com certa lucidez:
- Padre, é o seguinte: Fiz os treze pontos da loteria!
E ao dizer isto, deu uns gritos de dor, apertava as mãos contra si mesmo.
- Mas isso não é problema! – Disse-lhe logo. – Isso é solução para você e para sua família.
- Não padre, o problema é que – falava devagar e sempre parava. – O problema é que – e parou novamente. – O problema é que prometi dar a metade para a Igreja.
Ao dizer isso, deu mais uma vez um grito forte, apertando os braços contra si mesmo, resmungando: ai, ai, ai.
- Meu problema é o seguinte: - Preciso dar ou não dar a metade?
Desmaiou novamente. Chamou um médico, vizinho e amigo, que veio em seguida. Contou-lhe o “problema” que estava vivendo e o drama de consciência que vivia. Levou-o ao hospital, onde o internou.
Dia seguinte, antes do meio dia, o médico telefonou:
- Já deu o resultado do número de acertadores. Foram milhares. A parte dele não deu o suficiente para pagar uma diária de hospital.
Há muitas pessoas que se viciaram no jogo, a tal ponto que arruinaram suas vidas e a vida de suas famílias. A possibilidade de recuperar o que se arrisca na sorte, é muito pequena. Procura-se vida fácil, alimenta-se a fantasia, com a ganância em ter bens materiais. Doutro lado, as pessoas fazem promessas e depois não cumprem, criando problemas de consciência. Não se devem fazer promessas, se não tiverem estruturas para as cumprir.
*A Fundação Cultural Planalto de Passo Fundo salienta que o texto reflete a opinião de seu autor.