Opção pelos pobres

Postado por: Adalíbio Barth

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Nos idos de 1980 em diante, uma das reflexões dominantes na Igreja era a “opção preferencial pelos pobres”. Esta opção pastoral refletia o espírito da Igreja da América Latina, que amadureceu esta intuição bíblica, a partir das Conferências Episcopais de Medellin e Puebla.

Na formação dos novos padres este tema era o prato do dia, como se a Igreja nunca tivesse feito esta opção em sua caminhada histórica. Lembro-me da acolhida de seminaristas, estudantes de teologia, hospedados na paróquia que eu atendia. Imbuídos deste novo espírito, partiram para a ação pastoral. Após o devido planejamento, começaram as visitas às famílias de um bairro mais pobre, com a finalidade de organizar grupos de famílias, tanto para a oração como para as reflexões bíblicas.

Dois seminaristas partiram juntos para iniciarem as visitas, num sábado de tarde. Na primeira casa visitada, depois de boa acolhida e prosa, a dona de casa, morena, muito simples, sem muitos recursos, preparou um cafezinho, em xícaras grandes, lavou-as numa bacia, enquanto esquentava a água num fogão a gás, em mau estado de conservação e higiene. Alcançou a primeira xícara a um estudante, que a aceitou e agradeceu. Quando ofereceu a segunda xícara para o seu colega, que acompanhou o seu preparo, sem muita higiene, agradeceu e disse que não gostava de café. A senhora, ainda com a taça na mão, sentindo-se surpresa por não aceitar seu café, disse-lhe:

- Eu acho que você gosta de café, mas não gosta de café de pobre. Você viu meu jeito de prepará-lo e não gostou. Eu vou dizer mais: se vocês quiserem tornar-se padres, devem gostar de gente pobre, porque senão a Igreja não vai prá frente.

Depois de ouvirem silenciosamente o sermão, retornaram à paróquia, pois não tinham mais condições psicológicas em prosseguir as visitas. Diziam:

- Tudo o que foi falado nas aulas de teologia foi para os ares, na primeira visita feita a uma família pobre.

Não é fácil conciliar o discurso com a prática. É difícil ser coerente em todas as situações, levando uma opção até as últimas consequências. No Sermão da Montanha, Jesus no diz: “Felizes os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus” (Mt 5,3). A pessoa pobre tem o coração e a mente mais aberto para as coisas de Deus e é mais sensível em relação à vida comunitária.

*A Fundação Cultural Planalto de Passo Fundo salienta que o texto reflete a opinião de seu autor.

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