Padre João, ao entrar numa igreja, admirava a bela
construção feita com refinado bom gosto, orientado por arquitetos de comprovada
sensibilidade religiosa. Todas as linhas arquitetônicas, as luzes e as cores
ressaltavam a centralidade do altar. Caminhando em passos lentos valorizava os
detalhes dessa obra admirável, orgulho da comunidade cristã. Uma capela
lateral, chamada de “capela do Santíssimo”, guardava a reserva eucarística.
Nesse local, os fiéis faziam suas orações particulares, em local silencioso,
próprio para refletir e meditar sobre Deus e a realidade da vida humana.
Reparou ali a presença de uma menina, ajoelhada num genuflexório, compenetrada em suas orações. Segurava uma flor em suas mãos, fixando seu olhar em direção ao sacrário em frente.
Esta cena insólita chamou-lhe atenção. Começou a refletir: O que ela está fazendo? Qual o seu grau de consciência religiosa? Está cumprindo alguma promessa, pedindo, agradecendo ou louvando a Deus? Ou será mais uma prática ritualista?
Como pessoa desconhecida do lugar, pensou arrancar-lhe provas de convicções supersticiosas e reprováveis crendices. Dirigiu-se até onde ela se encontrava rezando e perguntou-lhe:
- Menina, o que você está fazendo aqui?
- Estou falando com Ele! – respondeu-lhe carinhosamente, apontando o dedo na direção do tabernáculo.
- Com quem?
- Com Ele! Não sabe que Jesus está aqui? – continuou a insistir.
- Mas eu não vejo ninguém.
- Quando o Senhor fez catequese, não aprendeu isso?
Com essa inesperada pergunta, o improvisado entrevistador desistiu de inquirir-lhe mais, pois sentiu-se impressionado e surpreso com a firmeza de convicções da pequena aluna de catecismo, dando-lhe agora certeza da eficácia da doutrina ensinada aos pequenos.
A criança, em sua inocência, tem o coração e a mente abertos e sensíveis à compreensão do mistério. Tem uma intuição da verdade revelada por Deus, na Escritura Sagrada, percebendo a sublimidade da doutrina, de maneira mais madura que imaginamos. Suas convicções têm razões mais profundas que os adultos imaginam.