Está posto no Brasil o debate sobre o aborto devido
às audiências públicas organizadas pelo Supremo Tribunal Federal. As
argumentações prós e contra são variadas. Algumas desconhecem o princípio da
inviolabilidade da vida humana ou assumem como condição de vida determinado
tempo de gestação. Lembramos que na compreensão da Igreja Católica a vida já
existe na concepção, após o óvulo ser fertilizado, e ninguém tem o direito de
interromper seu ciclo, seja qual for o motivo. Tem-se este princípio muito
claro sobretudo por que ali está uma vida ainda desprovida de defesa. Este
compromisso também compreende exigir do Estado, pois é princípio
constitucional, o cuidado e atenção a todas as gestantes, especialmente as que
vivem em condições de pobreza.
Compreendamos um segundo aspecto do cuidado com a vida. A referência é a vida em curso, da criança, do adolescente, do jovem e do adulto, muitas vezes moradores de rua, crianças sem lar, encarcerados, imigrantes, dependentes químicos. São pessoas criadas à imagem e semelhança de Deus, que receberam seu hálito de amor (cf. Gn 2,7). Muitas vezes conduzem sua existência em condições extremamente adversas. Enquanto cidadãos cabe lutarmos para que estes irmãos possam exercer o direito existir com dignidade e, no caso do erro, exercitarmos o princípio da misericórdia e a pedagogia da recuperação da pessoa. Soa estranho uma pessoa contrária ao aborto ser a favor da pena de morte. Sobre este tema recentemente o Papa Francisco se manifestou lembrando que a dignidade da pessoa não fica perdida, mesmo após ter cometido crimes graves e deve-se dar ao réu a possibilidade de se redimir definitivamente.
O terceiro aspecto diz respeito à vida no seu ocaso por ocasião da doença ou da idade avançada. É vida digna tal qual a vida do embrião ou da pessoa que vê a luz do sol. Exigem da sociedade o mesmo cuidado e atenção, muito mais devido a fragilidade própria da sua condição física. São vidas a serem cuidadas com zelo e atenção, porque ali também está o sopro de Deus que vai permanecer até que Ele o queira.
Compreendemos que a vida é dom de Deus. O cuidado da nossa vida e da vida do outro, sobretudo a mais fragilizada, é compromisso de cada cristão que também exerce sua cidadania, pois o ser cristão implica também em ser cidadão.