Os farroupilhas e os lanceiros negros!

Postado por: Ari Antônio dos Reis

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Sempre é bom revisitarmos a historiografia para perceber as contradições que envolvem as narrativas dos fatos passados.  Quem escreve a história faz a partir de um referencial metodológico e político que interfere no objetivo final. Neste caso tem certa parcialidade. Ou, mesmo com boa vontade, pode cair em contradições. Dar-se conta das mesmas é importante para não cometer ou persistir nos mesmos erros.

 Neste dia marcante para o Rio Grande do Sul, comemoração da Revolução Farroupilha, percebamos as contradições dos ideais revolucionários descritos ou cantados em prosa e verso.

 A Revolução tinha motivações culturais, econômicas e políticas. O objetivo final era a criação da República Rio-grandense como alternativa ao Governo Imperial.  Mas havia também algo valioso em jogo, a liberdade de um grande contingente de afro brasileiros, escravizados nas terras gaúchas, sustentando a economia do Estado através do trabalho no campo, lavoura e charqueadas.  

Na luta contra o Governo Imperial muitos escravos foram convocados para guerrear ao lado dos farroupilhas. Havia a promessa de, no final do conflito, os sobreviventes receberiam a carta de alforria. Estes escravos, junto com os libertos, formaram um batalhão denominado lanceiros negros, pois geralmente lutavam com lanças, muito aguerrido nas batalhas, se destacando pela valentia e destemor.  Lutavam por uma causa coletiva, os desmandos do governo central e lutavam por uma causa pessoal, a liberdade.

Ao final da guerra, sendo construído o acordo de paz, surgiu um entrave: o que fazer com os lanceiros negros que foram para a guerra ao lado dos farroupilhas? A historiografia relata o embate final denominado “Batalha dos Porongos” como definidora desta situação.

Neste último conflito os lanceiros negros foram massacrados pelas tropas imperiais. A situação foi tratada com reserva por muitos historiadores pelo fato de pairar no ar uma possível traição das lideranças farroupilhas. Teria sido um dos itens do acordo com Duque de Caxias não dar a liberdade aos lanceiros negros que por sua vez tinham a palavra dada que estariam livres. É importante sabermos mais desta batalha, porque ela permitirá outra leitura deste feito histórico comemorado em 20 de setembro.

Não implica em desconhecer o valor histórico da Guerra dos Farrapos mas compreender que ela foi marcada por grandes contradições e por fatos ainda não tratados de forma suficiente.  

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