Na secretaria da paróquia atendi um jovem do
interior do município, pessoa simples e de aparência de quem lida de sol a sol,
em árduas tarefas do dia a dia. Sua voz pausada, de fácil compreensão, ocultava
algo que não manifestava na primeira conversa. Falamos do tempo favorável às
plantações e das criações, bem como da lida difícil do campo. E como foi demorado
descobrir o motivo de sua chegada até a paróquia, o jeito foi perguntar mesmo,
pois havia mais gente para atender.
- Trouxe-me uma notícia especial hoje?
- Sim. Eu marquei a data de casamento.
- Para quando?
- Para o início do ano, na data que o padre pode ir lá na minha capela – explicou-me com sua voz cadenciada.
- Posso em qualquer data. Basta encaminhar os papéis. Trouxe os documentos necessários? – continuei logo, supondo ser do conhecimento dele o que se necessitava para preencher as folhas do proclama de casamento.
- Tenho sim, o CPF e a identidade.
- Preciso da certidão de batismo e do comprovante de curso de noivos. Senão vai ser difícil preencher a folha de casamento – completei.
- Mas eu sei tudo de cabeça – disse-me num ar de pessoa de boa memória.
- Então, vamos lá.
Comecei a escrever o nome dele, copiando da identidade.
- E agora, o nome dela.
- O nome de minha noiva? – informou-se melhor.
- Sim, o nome de sua guria?
- O nome da moça com quem vou casar? – insistiu ele mais uma vez.
- Sim, é isso mesmo – dizia-lhe já um pouco impaciente.
- Tonica! Pode colocar Tonica.
- Tonica de quê?
- Deixe escrito Tonica, que todo mundo sabe quem é.
Parei por ali. Pedi para vir outro dia, acompanhado da Tonica e os documentos necessários. Guardei o fato de maneira sigilosa. Alguns dias depois vieram e tudo foi resolvido.
Mas no dia e hora da cerimônia, após a entrada com a música da marcha nupcial, um gaiato, vencendo uma aposta, perguntou bem alto:
- Padre, foi ele que não sabia o nome da noiva?
Todos riram e depois continuamos a cerimônia.
No plano de Deus, o casamento é uma instituição divina, vivida no amor e na fidelidade de um casal que decide criar uma família, aceitando os filhos que Deus lhes enviar. Vivemos numa época em que o casamento está muito desvalorizado pelo divórcio e pelas separações. Ridiculariza-se o corpo humano, zomba-se do amor e não se leva a sério o plano de Deus.