A constatação da
crise que assola o Brasil não significa pessimismo, mas sim a compreensão
realista das dificuldades pelas quais passamos. As dificuldades não estão
apenas no âmbito econômico, certamente muito grave. Estão presentes de forma
acentuadas em outras dimensões da vida dos brasileiros. Chamo a atenção para a explicitação
de radicalismos políticos religiosos sem precedentes na história. Também
preocupa a explicitação de preconceitos em diferentes âmbitos, como se valesse
o princípio de que é considerado humano e socialmente aceito apenas um tipo de
pessoa. Neste viés de interpretação os indígenas, negros, pobres, homoafetivos
e estrangeiros não deveriam existir ou no mínimo se contentar com a condição de
excluídos, não interferindo na sociedade. Não é exagerado dizer que em plena
era do avanço tecnológico corremos o risco da barbárie social. O pleito
eleitoral, recém encerrado, explicitou, em alguns discursos, este viés de
pensamento social. Alguns candidatos se elegeram com este discurso, o que
significa que encontraram respaldo entre os eleitores.
Terminadas as eleições olhemos para a frente e percebamos que temos uma herança a ser mantida. Ainda que recente e frágil, temos uma tradição democrática. Historicamente somos caracterizados por uma pluralidade étnico cultural que não pode ser negada. Apesar de questionadas, e constantemente atacadas, as instituições têm cumprido o seu papel social. Questionar suas deliberações é próprio das democracias. Negar a sua existência é risco à democracia. Os últimos governos procuraram organizar políticas públicas que foram muito importantes na perspectiva de superar as desigualdades sociais históricas no Brasil. É o Estado cumprindo o seu papel de harmonizador social e facilitador das condições de vida da população. Estas realidades são a boa herança que o próximo presidente vai encontrar.
Em contrapartida temos também uma herança preocupante, a qual deve ser enfrentada. Os níveis de desemprego tendem a crescer. Por detrás dos números estão muitas famílias vivendo em condições difíceis pela falta de trabalho. Mesmo que não tenha aparecido nos programas de governo e nos noticiários da grande mídia, o Brasil corre o risco de voltar ao mapa da fome. A violência urbana e rural tem aumentado o que leva a perguntar-nos sobre o conceito de segurança pública que vigora no Brasil. Ainda pagamos muito caro pelos serviços de infraestrutura mesmo com atendimento precário.
Enfim, esta é a realidade preocupante do Brasil. Deverá ser enfrentada com equilíbrio e serenidade sabendo que o exercício do cargo público tem sentido se está voltado para o bem comum.