Tempo da quaresma: tempo de fraternidade

Postado por: Ari Antônio dos Reis

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Desde 1964, durante a Quaresma, a Igreja Católica no Brasil realiza a Campanha da Fraternidade. A primeira campanha, lançada naquele ano, trazia a proposta da renovação da Igreja motivada pelo Concilio Vaticano II em andamento. Tinha como lema a expressão significativa: “lembre-se: você também é Igreja”. A partir de então, no período quaresmal, faz-se a experiência de uma campanha da fraternidade refletindo um tema que acentua a missão evangelizadora da Igreja em diálogo com a sociedade.

Em 2019 é proposta a reflexão sobre as políticas públicas a partir do lema extraído do livro do profeta Isaias: “serás libertado pelo direito e justiça” (Is 1,27). A referência ao texto de Isaias lembra que as políticas públicas, sejam de Estado ou de Governo, são direito da população enquanto cidadã e permitem que a justiça se faça realidade para todos. Todo o cristão é cidadão do mundo e marca presença na sociedade onde vive. A sua vida de fé não permite que se isole do mundo como condição para a salvação. Esta é alcançada pela presença na sociedade, atuando em vista da sua transformação, a partir da fé em Jesus Cristo, a caminho do Reino de Deus, que começa aqui e se prolonga na eternidade. Nesta perspectiva compreende-se o objetivo da Campanha da Fraternidade deste ano: estimular a participação em políticas públicas, à luz da Palavra de Deus e da Doutrina Social da Igreja, para fortalecer a cidadania e o bem comum, sinais de fraternidade.

A reflexão da temática proposta é motivação para a participação política voltada para o bem comum. A sociedade da equidade e da justiça só se efetivará pela participação de todos os cidadãos. A busca de implementação de políticas públicas voltadas para o bem comum é um processo demorado, contudo necessário, para que se acolha a participação de todos. Segue-se o princípio de que quanto mais participação popular maiores as chances de contemplar os anseios da população. Compreende-se também que a participação política é um caminho formativo inigualável. Forma para a vida e forma para as atitudes de alteridade, solidariedade e fraternidade. A Palavra de Deus e a Doutrina Social da Igreja são referências importantes desta atuação.

É questão de justiça que a população acesse a educação, o tratamento de saúde, a segurança, o transporte, assistência social e tantos outros direitos. Não são esmola ou concessão de um governante “bonzinho”. São direitos de cidadania e pilares de uma sociedade verdadeiramente acolhedora de todos.

Trazer o tema das políticas públicas para o período da caminhada quaresmal contribui para que cada cristão ou pessoa de boa vontade aproveite este tempo de graça como oportunidade de engajamento na transformação da sociedade. A quaresma não é tempo de fechamento ou intimismo espiritualista. É tempo de abertura a graça de Deus e comprometimento com a construção de uma sociedade que seja sinal do Reino inaugurado por Jesus Cristo.

Pe Ari Antonio dos Reis

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