As extensas áreas de terra,
nas mãos de poucos proprietários, causaram muitos conflitos agrários,
ocupações, novos assentamentos, processos judiciais e muitas mortes.
Fui convidado para as cerimônias de exéquias de um falecido, que não conhecia. Quando cheguei à capela mortuária, uma pessoa da família veio prevenir-me de possível constrangimento. Explicou-me a história do fazendeiro que perdeu uma parte das terras para a reforma agrária e se virou contra a Igreja, culpando-a por tudo o que ele passou. Não foi mais à missa, falava mal dos padres, mas a família continuava ligada à comunidade cristã. Pediu para não tocar no assunto, que tudo pode ser mal interpretado, pois, ele também tinha amigos que vieram fazer suas despedidas. “Basta umas rezas e está bem, padre” – completou.
Como não podia mais esquivar-me do compromisso assumido, seguimos as orações do ritual e o corpo foi levado à sepultura. No cemitério, após as orações finais, veio-me um familiar, que assim se expressou:
- Olha, padre! Não adianta insistir em ter tanta terra. No final cada um recebe um metro por dois de comprimento e sete palmos de fundura. Aqui no cemitério acaba toda ambição de querer ter bastante terra. Aqui não há necessidade de reforma agrária. É todo mundo igual.
Assim terminou o insaciável coração humano, igualado a ricos e pobres, a latifundiários e sem- terra. Mas, cabe a Deus julgar a vida de cada um.
Realmente o coração humano é insaciável. Nunca se contenta com o que tem e sempre deseja mais. Para conseguir este intento, usa de expedientes reprováveis, com a convicção de que a justiça não o alcança. Quando vê, a justiça dos homens, intima-o a prestar contas. E um dia, é certo, vai prestar contas a Deus.