Bife de língua

Postado por: Adalíbio Barth

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Os padres das paróquias atendem as comunidades do interior, chamadas capelas, ao menos uma vez por mês. Quando ali chegam, aproveitam para deixar em dia todos os assuntos de antemão agendados e outros imprevistos. Torna-se, não raras vezes, um quebra-galho na hora, precisando ouvir desabafos desta ou daquela pessoa. As diretorias têm suas queixas, o pessoal do salão ainda não conseguiu acalmar as últimas brigas havidas, a escola tem suas reivindicações, enfim, há necessidade de muita paciência para se resolver tudo.

Certa feita cheguei bem antes da hora da missa a uma capela do interior, para resolver problemas. Encontrei um homem escorado num plátano de boa sombra. Estranhei, porque essa pessoa chegava sempre à hora certa e, hoje estava ali, bem antes e com um ar esquisito.

- Boa tarde!

- Boa tarde! - respondeu num tom baixo, como se não tivesse ouvido bem.

- Como está o senhor?

- Mais ou menos! - continuou no mesmo tom tristonho.

Seguiu-se longa conversa, enquanto ali não havia ainda ninguém. No final da história, o indivíduo saiu-se com esta reflexão:

- Vida inteira eu tinha medo de cobra, e não é que eu fui casar com uma jararaca!

Acontece que ele tinha apanhado da mulher. Ela se exaltou demais, pois o tinha aguentado, de maneira calada, durante uns vinte anos.

Após a missa, tendo falado com os dois em particular e depois com os dois juntos, houve mais um desentendimento: agora brigavam, porque um acusava o outro de sempre começar a briga. Notou-se que ambos tinham uma língua comprida. Fazendo-se três bifes de cada uma, ainda sobrava bastante carne.

Somos todos convidados ao diálogo. É um exercício difícil, pois, exige muita escuta, humildade e atenção ao ponto de vista da outra pessoa. Todavia, compensa porque pode evitar posteriores dores de cabeça. A agressão física deixa marcas quase sempre irreparáveis entre as pessoas, que não vão mais reconciliar-se.

 

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