Os padres
das paróquias atendem as comunidades do interior,
chamadas capelas,
ao menos uma vez
por mês.
Quando ali
chegam, aproveitam para deixar
em dia
todos os assuntos
de antemão agendados e outros imprevistos.
Torna-se, não raras vezes,
um quebra-galho
na hora, precisando ouvir
desabafos desta ou
daquela pessoa. As diretorias
têm suas queixas,
o pessoal do salão
ainda não
conseguiu acalmar as últimas brigas
havidas, a escola tem suas reivindicações, enfim,
há necessidade de muita
paciência para
se resolver tudo.
Certa feita cheguei bem antes da hora da missa a uma capela do interior, para resolver problemas. Encontrei um homem escorado num plátano de boa sombra. Estranhei, porque essa pessoa chegava sempre à hora certa e, hoje estava ali, bem antes e com um ar esquisito.
- Boa tarde!
- Boa tarde! - respondeu num tom baixo, como se não tivesse ouvido bem.
- Como está o senhor?
- Mais ou menos! - continuou no mesmo tom tristonho.
Seguiu-se longa conversa, enquanto ali não havia ainda ninguém. No final da história, o indivíduo saiu-se com esta reflexão:
- Vida inteira eu tinha medo de cobra, e não é que eu fui casar com uma jararaca!
Acontece que ele tinha apanhado da mulher. Ela se exaltou demais, pois o tinha aguentado, de maneira calada, durante uns vinte anos.
Após a missa, tendo falado com os dois em particular e depois com os dois juntos, houve mais um desentendimento: agora brigavam, porque um acusava o outro de sempre começar a briga. Notou-se que ambos tinham uma língua comprida. Fazendo-se três bifes de cada uma, ainda sobrava bastante carne.
Somos todos convidados ao diálogo. É um exercício difícil, pois, exige muita escuta, humildade e atenção ao ponto de vista da outra pessoa. Todavia, compensa porque pode evitar posteriores dores de cabeça. A agressão física deixa marcas quase sempre irreparáveis entre as pessoas, que não vão mais reconciliar-se.