Já me encontrava exausto,
após um dia de palestras
com os alunos de
uma escola.
Restavam apenas os quatro períodos da aula noturna. Os alunos que frequentam o turno da noite, geralmente são estudantes que, de dia, lutam bravamente em ocupações que lhes limitam a capacidade de atenção e reflexão durante as aulas.
Foi num período assim, que me deparei com jovens cansados, escorando a cabeça com as duas mãos para não cair. Mas, fiel ao que me propus, enfrentei mais um grupo, que se encontrava ali apenas para cumprir a carga escolar.
- Boa noite, amigos! - entrei demonstrando toda atenção e carinho, levando comigo farto material impresso para ser distribuído.
A resposta a esse “boa noite” foi tão fraca que, no momento, relutei entre repeti-lo ou dar um passo para trás, abandonando o grupo.
Já em frente aos alunos, para alguns curiosos que me encaravam, repeti mais alto e pausadamente:
- B o a n o i t e!
A reação já foi bem maior, tendo acordado quase todos.
A porta se abriu mais uma vez para a entrada de alunos retardatários. Chegando, saudaram a todos os colegas:
- Boa noite!
Alguns responderam atentamente, em acolhedora resposta:
- Boa noite!
Os novos colegas necessitavam de espaço na sala. Todos recuavam ou adiantavam a mesa escolar, num barulho ensurdecedor. Enquanto alguns ajuntavam pasta, caneta ou livros que haviam caído, outro mais atencioso tentava acender, com uma vassoura, uma lâmpada fluorescente, que deixava escura a metade da sala. Ao tentar acender as luzes, atraía atenção geral, retardando mais um pouco o início dos trabalhos.
Finalmente, todos sentados, olhares atentos, curiosos pelo assunto a ser tratado... Enquanto o tema era colocado para reflexão, estando já todos concentrados no assunto, abriu-se a porta, com o ensurdecedor chiado das dobradiças secas:
- Boa noite! - entrou mais um jovem que, saudando os demais, atraiu todas as atenções.
Imediatamente repetiu-se a operação amiga e solidária, espaçando as estantes, respeitando o princípio da igualdade que deve reinar entre colegas. Ao final desse mexe-mexe, estando tudo normalizado, retomei o tema, conformado com os imprevistos da noite.
- Então vamos retornar ao assunto que iniciamos a refletir com vocês neste período de aula...
Quando já conseguira prender a atenção de todos, enveredando pelo tema propriamente dito, com a distribuição de um significativo impresso, a porta se abriu novamente, com suas dobradiças choramingas:
- Com licença! A Juliana, por favor! - era a diretora chamando a aluna para resolver um problema administrativo na secretaria.
Acalmada a situação, depois de todas as distrações e comentários, aprontei o projetor para ilustrar com “slides” o tema a ser desenvolvido.
Após o segundo quadro explicativo, o inesperado aconteceu. Faltou luz! Gritos, assobios, conversas, empurrões e muito mais seguiu-se no meio da escuridão.
Um aluno logo abriu a porta, certificando-se da extensão da falta de luz. Os alunos das outras salas já se misturavam no corredor e o barulho dominava toda a escola.
Tratou-se de salvaguardar o projetor, providenciando lugar seguro para deixá-lo.
Após quinze minutos, a luz retornou. Todos voltaram às salas correndo. Repetiu-se novamente o ritual de entrada e acomodação.
Quando todos estavam sentados, o inesperado: A campainha tocou o final do período. A reação dos alunos foi imediata, aguardando o novo período e o novo professor.
Já com o material didático em mãos, ao retirar-me, fui surpreendido com a confidência de um aluno:
- Volte sempre! Foi das melhores aulas que já tivemos neste ano.
Como está a educação em nossas escolas? Quais as condições que as autoridades públicas oferecem aos professores? Como o professor é valorizado? Quais são as prioridades de uma escola? Quais os problemas que os professores enfrentam em relação aos alunos?