Um dos mais frequentes pedidos
que o povo
faz ao padre é a bênção.
Pedem pela saúde
desta ou daquela pessoa,
para benzer criança doente, casas, carros e
até animais.
Isto é normal
e fato comum
nas comunidades.
Todavia, incomum é o fato de dar a bênção a uma junta de bois cujo proprietário foi perseguido pela fatalidade.
Eis como aconteceu:
Os pais do padre, morando em cidade distante da paróquia onde ele atuava, andavam muito tristes, porque fora roubada a junta de bois de trabalho e estimação da família. Era só chamar o “Barroso” e o “Mascarado”, que vinham logo se prontificar para a carga e o serviço. Mas, um belo dia, depois de muito chamá-los no potreiro da propriedade familiar, constatou-se a triste realidade: foram roubados durante a noite.
A notícia correu rapidamente. Registrada a queixa, de toda parte acorreram pessoas de boa vontade, prestativas, a procurá-los. Feitas as buscas na redondeza, concluiu-se ser caso perdido.
O padre, ao visitar seus pais, prometeu colaborar na procura dos animais.
Retornando à sua comunidade, distante uns cem quilômetros, continuou em seu habitual zelo de visitar as famílias, dando bênção às casas, plantações e criações. Qual não foi a surpresa, quando, em certa propriedade, foi-lhe pedida uma bênção toda especial a uma junta de bois, comprada recentemente, mas que se negavam a obedecer ao novo proprietário.
Chamados pelos nomes de “Pintado” e “Mineiro”, não levantavam nem a cabeça e continuavam pastando. O padre prontificou-se a ir mais perto e dar a bênção lá mesmo. E reconheceu imediatamente, o “Barroso” e o “Mascarado”. Chamando-os pelo nome original, vieram correndo ao seu encontro.
- Olha que milagre fez o padre! - exclamou o desanimado adquirente dos bois.
Ao retornar do cercado, caminhando ao lado dos bois, já de longe o padre recebeu os parabéns pela bênção forte que havia invocado.
- Parabéns, nada! - cortou logo a bajulação. Estamos diante de um caso de polícia.
O azarado receptador dos bois roubados jamais teria imaginado tamanha coincidência: adquiriu animais furtados justamente da casa do pai do padre de sua comunidade paroquial.
Depois de registrada a queixa na delegacia local e devolvidos os bois ao legítimo proprietário, o receptador, preocupado com as irregularidades nas propriedades da vizinhança, alertava a todos:
- Convidem o padre só para dar a bênção à casa. Se deixarem ir ao potreiro, vai descobrir tudo.
O ditado já diz que “o diabo faz a panela, mas não a tampa”. Vivemos numa sociedade que está em crise em seus valores éticos. Há desrespeito pela propriedade particular e pensa-se enriquecer facilmente com os pertences do próximo.