Depois de um dia inteiro de palestras
numa escola, tanto
na parte da manhã
como da tarde,
nada melhor,
para nós palestrantes vindos de fora, do
que sentar-se tranquilamente antes do jantar, para depois continuar a tarefa nos quatro períodos da noite.
- A janta está pronta! – faz-se ouvir uma voz de comando da cozinha da casa paroquial.
Sentamo-nos todos à mesa, como operários merecedores de seu salário. Após os elogios ao bom tempero do “prato de pombas”, preparado com muito carinho pela doméstica, saboreávamos a última refeição do dia. Voltaríamos à casa paroquial, após as palestras com os alunos do ensino médio, para o descanso noturno.
- Não sei se vêm muitos alunos, porque está começando a chover – observa o pároco, voltando da janela, onde fora observar as condições do tempo.
Os relâmpagos riscavam a escuridão da noite e os trovões assustadores sacudiam a casa. E a chuva começava acompanhada de ventos fortes.
- Deve ter uma telha quebrada, porque está caindo água na minha cabeça! - observa rapidamente alguém, enquanto os outros se levantam das cadeiras, segurando o prato na mão.
No começo todos se protegeram num canto da sala. Aos poucos, um se encontrava pelo corredor, outro na cozinha, enquanto o pároco empunha um guarda-chuva.
- Segure aqui, que vou achar outro! – É o vigário que vai providenciar mais guarda-chuvas, enquanto a chuva continuava forte e os trovões não cessavam. Faltou a luz.
- Alcance o isqueiro, lá do fogão! - grita o cura à doméstica.
E retorna com uma vela acesa, debaixo do guarda-chuva, não sabendo onde colocá-la.
- Deixe que eu seguro! - diz um.
- Alcance uma vela aqui! - diz outro, enquanto a água cai forte por toda a casa.
Depois de alguns intermináveis minutos, a luz retornou e encontrou a todos nessa tétrica situação, parecendo um velório improvisado.
Para a felicidade geral, depois de algum tempo, a chuva cessou. A fome também já tinha passado. Restava agora reorganizar-se para as palestras na escola.
Diante do imprevisto, ninguém mais se lembrava dos cartazes, do álbum seriado, dos impressos e das pastas na mesa da sala ao lado. Tudo estava boiando, ou em cima da mesa, ou nas águas do assoalho. O estrago foi geral.
- Mas nunca choveu dentro desta casa! - continua estranhando o pároco. - Foi a primeira vez! Vou descobrir a causa!
Depois das despedidas, todos viajaram às suas casas, diante da impossibilidade de se continuar ali.
Na visita seguinte à localidade, o fenômeno anormal já tinha explicação na boca do povo: o padre eliminara, a tiros de espingarda, as dezenas de pombas que habitavam no forro de sua casa. Na época a caça era permitida. As telhas foram atingidas, causando um enorme estrago, que não fora percebido antes. E as pombas se vingaram na “janta especial” daquela noite.
Só se provam os fundamentos de uma casa (vida), nos momentos de tempestades (problemas, doenças, desentendimentos...). Igualmente diz o ditado “quem tem telhado de vidro, não atire pedra na casa do vizinho”. Um dia a verdade será “proclamada de cima dos tetos”.