Conheci o amor que o falecido cônego Bento, reitor do
seminário de Tapera, RS, tinha pelas plantações de seu seminário, especialmente
em relação ao seu pomar. Este, de fato, era extenso e sempre carregado de
muitas frutas, visando o sustento dos alunos internos.
Alguns vizinhos, muito inescrupulosos, de vez em quando faziam seu rancho de frutas, visitando o pomar do cônego Bento, em horário de pouca vigilância. Quando levavam para a alimentação da família, ele fechava um olho e resolvia plantar mais algumas fruteiras, para cobrir o risco a que sempre estava sujeito.
Certa vez, todavia, um conhecido espertalhão foi flagrado em plena avenida da cidade, vendendo frutas do seminário, em banca improvisada. Cônego Bento se aproximou, como possível comprador, interessado nas vistosas laranjas de umbigo, e foi logo perguntando:
- Quanto é a dúzia?
- Levando uma dúzia é tanto! – disse rápido o vendedor, afirmando serem boas e colhidas há pouco.
- Não podem ser tão caras, porque eu as vendi para você, lá no seminário, pela metade do preço! - atalhou o cônego, para surpreendê-lo numa armadilha.
- Mas eu sou do comércio! - completou imediatamente o esperto larápio.
Vivemos numa
cultura onde o desleixo e a preguiça em trabalhar fazem parte da história de
gerações inteiras. Afirma-se: “Plantando dá e não plantando dão”. E pode-se
justificar tudo. Diz-se: deve-se respeitar a cultura dessa ou daquela pessoa,
não tiveram a educação, não tiveram oportunidades, são de outra tradição e
assim por diante. O que as pessoas entendem por trabalho? Qual o respeito pela
propriedade alheia? Como se deve educar para a ética?