No
final da tarde de quarta-feira, dia 15 de maio, sepultamos Dom Urbano, bispo
emérito de Passo Fundo. Durante o
velório via-se o sentimento de pesar pela sua partida, mas também de alivio
pelo fim do sofrimento e, sobretudo, de gratidão pelo bom testemunho que deixou
em nossa Arquidiocese.
Chegou a Passo fundo, vindo de Porto Alegre, em abril de 1982, aos 58 anos de idade. Passou nestas terras 37 anos até partir para a eternidade aos 95 anos de idade e 69 de ministério sacerdotal. E sabíamos que gostava de Passo fundo. Quando ficou emérito não quis sair daqui. Viveu este tempo conosco disseminando uma sensibilidade e respeito humanos inigualáveis. Até mesmo na discordância de concepções políticas, sociais, pastorais ou teológicas, agia com muita cautela para não magoar seus interlocutores. Jamais esquecia de agradecer qualquer ato em seu benefício. E o fazia com palavras sinceras, vindas e um coração generoso.
Como pastor da Igreja particular de Passo Fundo enfrentou situações difíceis, especialmente nas questões sociais. Lembremos as ocupações de terras e a problemática indígena. Do seu jeito foi tentando contornar os conflitos. E sua contribuição foi muito importante. Para alguns deveria ser mais ousado em algumas atitudes. Talvez tenha feito o possível naqueles tempos. Mas não deixava dúvidas quanto a sua opção por Jesus Cristo configurado nas famílias sem-terra buscando um pedaço de chão para trabalhar. Também nos povos indígenas com a sobrevivência física e cultural ameaçadas. Durante seu velório lembrou-se estas atitudes. Ficou na memória e no coração das pessoas. Sem arroubos e personalismos revelava-se um pastor preocupado com os mais pobres dentre os pobres. Por ocasião da Campanha da Fraternidade de 1988, tratado do tema da negritude, deixava transparecer sua satisfação em ver a Igreja tematizando a realidade difícil dos afro-brasileiros. E como aquela campanha foi importante.
Gostava e defendia os padres que atuavam na diocese e tinha um respeito muito grande pelos leigos. Explicitava isso na escuta atenciosa e no empenho pela superação das diferentes dificuldades.
Tudo isso era feito a partir de um manancial de espiritualidade profundo, alimentado pela eucaristia diária, oração do terço e muitas leituras de aprofundamento. É conhecido de todos o seu apreço pela leitura diária de jornais e outros informativos. Aliava-se a espiritualidade e cultura ampla que tanto lhe ajudavam a compreender o mundo e as pessoas deste mundo.
Perdemos Dom Urbano. Ficou o vazio físico, mas fica também a grandeza do testemunho dado. Por isso: Muito obrigado e que Maria o acolha na eternidade!