O cônego
Bento tinha
grande criação
de animais que
necessitava para o consumo
da casa, que
era o seminário.
Predileção especial
demonstrava pelo galinheiro,
que ficava perto
de casa. Ali
tudo era
bem organizado: galinhas
poedeiras, galetos
para engorda, local
da ração, enfim,
instalações compatíveis
com a época dos
anos 60.
Neste tempo, em Tapera não havia criminalidade e o lugar era pacato. Na delegacia não se registravam muitas ocorrências, a não ser aquelas de “fim de baile” e alguma intriga de vizinhos. De vez em quando, surgia algum roubo, mas os ladrões não eram muito especializados. A maioria era ladrão de galinha.
Numa dessas batidas, a vítima foi o caprichado galinheiro do cônego Bento. Quem o conheceu se recorda do jeito magoado com que passava o dia, quando acontecia um fato desses. Deixava-o muito humilhado.
A notícia do roubo se espalhou e, uma vez registrada a queixa, saiu atrás do suspeito. O único rastro deixado foram as marcas de alpargatas. Muitas pistas surgiram. Sem mandado de busca e apreensão, saiu como detetive à procura do ladrão. Finalmente, tudo indicava na direção de certo indivíduo. Não teve dúvidas. Agora o delegado deve entrar em ação para trazê-lo à delegacia.
Diante do delegado, apresentou-se um sujeito mal-encarado, de estatura média e de olhar penetrante, aparentando uns vinte anos.
O delegado expôs o acontecido e, com muitas perguntas capciosas pressionava a confissão do réu. Quando já estava desanimado, mandou entrar na sala o cônego Bento, explicando-lhe a possível inocência do réu e que não conseguira avançar nas investigações.
Cônego Bento olhou firme, primeiro para os olhos e depois para os pés do suspeito, dizendo-lhe:
- Foi você, porque você estava com chinelo de dedo, naquela noite!
Ao que o homem respondeu olhando para o delegado:
- Está vendo, senhor delegado, porque não fui eu. Está dizendo que eu estava com chinelo de dedo, naquela noite, e eu estava de alpargatas.
Entrou em cana na hora.
O desrespeito pelas coisas alheias é um deboche para quem é honesto. Os grandes ladrões começam com pequenas coisas. O roubo de uma máquina de costura começa apanhando as agulhas e linhas. Depois com tecidos e acessórios, até que, finalmente, rouba-se toda ela. O mesmo acontece com os ladrões de carros. Iniciam roubando o som, depois os pneus e acessórios, outros pertences que a vítima deixou no interior do carro e entram numa quadrilha e continuam no mundo do crime.