A polêmica entre o Presidente da República e o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, INPE está longe de ser um jogo de palavras ou opiniões. De um lado foram apresentados dados preocupantes, fruto de anos de trabalho sério, sobre o desmatamento da Amazônia. Nos primeiros 18 dias do mês de julho foram detectados mais de mil quilômetros quadrados de desmatamento na região. Fato preocupante.
De outro lado veio a réplica do governante, que já demostrou em outros momentos, ter uma leitura muito simplificada de algumas realidades do Brasil, fato que no futuro poderá trazer graves consequências pelo poder de decisão colocado em suas mãos. Novamente se explicita a pergunta sobre um projeto para o Brasil. Será que existe? Tudo indica que não. Primeiro pela leitura simplista que tem do Brasil, explicitada em alguns momentos. Segundo pelo despreparo técnico do seu quadro de assessores.
A inibição do processo de desmatamento da Amazônia é crucial para manter o equilíbrio climático no Brasil. Em três décadas a região perdeu 18% das Florestas e isto é preocupante. Contestar o papel do INPE, órgão de reconhecimento internacional pela seriedade nas pesquisas e monitoramento do desmatamento na região é flertar com obscuridade. É uma contestação sem embasamento e perigosa para a nação.
O cuidado com a região amazônica é compromisso da sociedade e, sobretudo, compromisso do Estado. Os que hora ocupam cargos de responsabilidade têm um compromisso com a história da preservação da Amazônia em nome das futuras gerações. É sabido que a preservação da região tem um alcance muito maior pela sua implicância no clima.
Já ouvimos falar dos “rios voadores”. São cursos de água que passam pela atmosfera oriundos da floresta amazônica. Essas correntes de ar invisíveis carregam a umidade da Bacia Amazônica para o Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil. São responsáveis pelo regime de chuvas nas demais regiões do Brasil. A diminuição da Floresta Amazônica implicará na alteração do ciclo dos “rios voadores” e consequentemente no ciclo de chuvas nas demais regiões do Brasil. Temos sentido nos últimos anos as consequências das alterações climáticas.
A contestação do trabalho dos cientistas do INPE implica no risco do retrocesso. Não podemos em um prazo curto de tempo perdermos todas as conquistas referentes a proteção da Floresta Amazônica. Antes da contestação requer-se um compromisso sério viabilizado por políticas de enfrentamento ao desmatamento. O Brasil e o mundo pedem este compromisso.