Nos bons tempos de caça permitida, contavam-se
muitas histórias de corajosos caçadores, especialmente de reis, com suas
matilhas de cães adestrados, cercando as presas com arte e rara habilidade,
vencendo facilmente as competições. Os súditos, naturalmente, imitavam seus
mestres e se estabelecia uma cultura de depredação da natureza.
Essa época passada, não é de fácil compreensão para os jovens de nosso tempo, pois agora existe uma consciência ecológica mais aguçada. Em outros tempos, não existiam as competições como estão agora habituados a ver na televisão ou participar em diversos jogos esportivos. A juventude, nos dias feriados, se ocupava na caça e na pesca. Os maiores se deleitavam em corridas de cavalo, nos boliches e nas bochas e os mais velhos ocupavam-se em jogos de baralho.
Recordo-me de uma caça a um jacaré, marcado para um domingo. O dia foi esperado ansiosamente. Os apetrechos estavam todos preparados. O dia amanheceu lindo. Após as obrigações religiosas na igreja, onde todos participavam, iniciou-se a inesquecível luta contra um jacaré que amedrontava a todos os animais de um lago e impedia a tradicional pesca, diversão predileta da juventude local.
Estudadas as táticas de captura, e tendo invadido as águas com muitos artifícios de proteção pessoal, após longo tempo, eis que surge, na beira do lago, o temível réptil, desafiando os corajosos caçadores. Olhava de um lado para o outro, pronto para escolher uma vítima postada ao seu alcance.
Não deu tempo. Nosso principal atirador desfechou-lhe um tiro certeiro, atingindo-o na altura do tórax, o que lhe possibilitou saltar muitas vezes, com a boca aberta, pronto para agredir um caçador, em legítima defesa. Mas, depois de cansar-se, deitou-se imóvel, parecendo estar morto.
- Pode buscá-lo! – gritou o atirador para o Urbano, o membro mais valente do grupo.
Dirigiu-se de maneira altiva e decidida para junto do jacaré supostamente morto. Ao chegar a uma distância de um metro, qual não foi a surpresa: o jacaré deu um inesperado salto, provocando uma gritaria e um pânico geral. A correria foi tanta, que demorou meia hora para reunir novamente todo grupo de aventureiros.
- Urbano, vai lá buscar o bicho, ele está morto! – gritou novamente o que disparara o tiro certeiro.
E Urbano dirigiu-se calmamente para junto do bicho. Quando parou a uma distância de cinco metros, nosso chefe perguntou-lhe:
- Você está com medo?
- Não, eu não estou com medo, mas com um certo receio.
- Então volte que vai outro buscá-lo.
Nisto o animal mexeu-se levemente. Voltou, então, em louca disparada, como se estivesse a seu encalço. Todos riam das circunstâncias. Mas o Urbano se defendia explicando:
- Eu não tinha medo, mas que andei ligeirinho, andei. Sou pessoa prevenida.
Você se considera uma pessoa corajosa? É capaz de enfrentar situações adversas em sua vida? Na hora do perigo, das provações e das dificuldades, os outros podem contar com você?