Estou tendo a oportunidade de participar do processo preparatório do Sínodo da Amazônia. Este desenvolveu-se em várias etapas, marcadas pela preocupação inicial de escutar os diferentes povos da Amazônia. A liberdade de escutar carrega a responsabilidade e o compromisso de uma ação diferenciada na região partir do que a escuta sugere.
Em tempos de pouca escuta e muita opinião, por vezes sem fundamento, cabe recuperarmos pessoalmente e institucionalmente este princípio tão importante nas relações humanas e na construção de projetos sociais e eclesiais. Viu-se que o processo de escuta em vista do Sínodo foi rico. Mais do que escutar, se aprofundou um caminho fértil de interação com os povos da Amazônia. Apontou várias possibilidades para a continuidade da missão evangelizadora da Igreja. Exigirão mudanças, mas as mudanças validarão ainda mais a escuta. Revelarão o respeito por quem se manifestou.
Temos ouvido algumas manifestações de pessoas que não gostaram do que foi dito e escrito, fruto do processo de escuta. Esperamos que reconsideram esta posição, porque, se a Igreja se abriu a um processo de escuta dos povos da Amazônia, certamente há de considerar esta contribuição valiosa nas reflexões sinodais e elas apontam para uma nova forma de ação como resposta aos desafios da evangelização na Amazônia.
Junto à metodologia da escuta está o diálogo. São processos muito próximos. Quem ousa a assumir o caminho do diálogo se dispõe também a escutar. Sem escuta não existe diálogo. Existirá o monologo. O instrumento de trabalho do Sínodo lembra o diálogo como o melhor caminho para transformar as velhas relações, marcadas pela exclusão e a discriminação (IL 35). O compreende como uma comunicação jubilosa entre aqueles que se amam (IL 36). Pelo diálogo descobrimos outras leituras de mundo. Temos também a oportunidade de explicitar a nossa leitura. Existirá a possibilidade de se descobrir novos caminhos e oportunidades, fator de grande enriquecimento pessoal e institucional.
Na disposição de escuta e diálogo, acontecido nas bases da vida eclesial, a ser concluído no encontro de Roma, serão abertas novas possibilidades para a ação evangelizadora na Igreja da Amazônia. Que o Espirito Santo, aliado à vontade humana, ilumine este novo caminhar. Que este processo inspire outras ações da Igreja tornando-a mais acolhedora da participação de todos.