Quem passou um certo tempo
de sua vida escolar em internato de religiosos, sempre conta alguma vantagem,
típica de adolescentes de frágeis convicções e inexperientes em sua caminhada
em busca de uma vida mais segura. Há necessidade de regras comuns para um bom
andamento da vida comunitária, caso contrário, se cria um ambiente de
insegurança, incapaz de gerar certezas, formar convicções e estabelecer uma
disciplina que favoreça a formação do caráter.
Foi o que aconteceu com um grupo de normalistas num pensionato de religiosas. Para a manutenção de muitas alunas internas, havia o trabalho de horta e pomar, para que as mesas fossem servidas com deliciosas hortaliças, cultivadas segundo as exigências ecológicas de nosso tempo. No pomar, as laranjeiras ostentavam em seus galhos, apetitosas laranjas de umbigo, ainda não totalmente prontas para o consumo. E as maçãs já estavam avermelhando, para confirmar seu amadurecimento.
De comum acordo, decidiram não apanhá-las antes do tempo de seu amadurecimento e sempre de maneira comunitária, para que cada uma tivesse a mesma oportunidade no momento da partilha. Estabelecida esta norma, deveria também ser rigorosamente observada. A transgressão dessa regra era severamente reprovada.
Um belo dia, a Irmã responsável pelo trabalho da casa, passeou pelo pomar e constatou a falta de muitas frutescências. A suspeita pelo sumiço das tentadoras frutas recaiu sobre as internas. Reunidas para averiguação das culpadas, ninguém se acusou dessa falta de compromisso comum. Ante o imprevisto, restou um expediente pouco comum: reunir a todas diante do sacrário, na capela da casa, impossibilitando as meninas de mentirem diante de Jesus.
Agrupadas nesse ambiente silencioso e um tanto constrangedor, uma delas confirmou à Religiosa:
- Ninguém vai mentir e vamos fazer isso por escrito.
A formadora concordou. Todas escreveram um bilhete e depositaram-no ao redor do Santíssimo. Todavia, quando a curiosa irmã foi verificar quem se acusara da transgressão, teve uma surpresa. Em todos os papeis estava escrito, uma verídica confissão:
- Fui eu, Jesus!
A obediência não significa aceitar cegamente o que um superior manda e desmanda. Todas as pessoas foram criadas à imagem e semelhança de Deus, na inteligência, na vontade e na liberdade. Sem compreender as razões, não será possível educar alguém para a liberdade. Há pessoas que desejam impor-se pelo cargo que ocupam, mas carregam um fardo insuportável para elas mesmas e seu grupo de obedientes.