Conselho para ladrões

Postado por: Adalíbio Barth

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Dois conhecidos larápios concluíram que, para vencer seu detestável vício, deveriam fazer uma promessa e participar em uma romaria mariana, visando a conversão. Reservaram seu tempo, organizaram-se e foram a pé, enfrentando os setenta quilômetros de distância, conforme promessa. A partir de agora, respei­tariam a propriedade alheia, conforme os princípios da fé cristã.

Na longa caminhada até o local, pessoas conhecidas admiravam-se da con­versão realizada pelos dois. Afinal, a santa é forte e ninguém pode resistir-lhe aos apelos de mudança de vida.

E assim, em passos largos seguiam a caminhada. Quando finalmente che­garam, cansados e exaustos, continuaram devotamente participando das rezas programadas. Cada pouco, confirmavam um ao outro, a disposição de seguir, de agora em diante, como bons cidadãos, no trabalho e no respeito às coisas alheias.

Chegou o meio dia. Um número incalculável de romeiros vinha da chur­rasqueira trazendo espetos de churrasco, com sua apetitosa carne assada. A promessa realizada não permitia consumir qualquer comida, somente água. E para não passar pela tentação de consumir algo, não levaram dinheiro consigo. E assim, permaneciam a olhar os tentadores assados de carne, que enchiam os olhos e provocavam um apetite irresistível.

Um devoto já dizia para o outro:

- Eu acho que alguém tem pena de nós e vai oferecer um pedaço de carne.

O outro piedoso romeiro, se autocensurava:

- Não devíamos ter feito essa promessa. Como vamos passar todo dia, sem comer e ainda voltar a pé? Não dá. Penso que vamos cumprir nossa promessa, em outra ocasião. Precisamos nos alimentar.

E caminhando na praça de alimentação, alguém largou um espeto de carne na mesa reservada para a família e os amigos e foi à procura de salada e pão, deixando os familiares à espera.

- Com licença - prontificou-se logo um deles. Sou garçom e este espeto não está bem assado. Vou trocar para vocês e trazer outro bem assado.

Todos se admiravam do servente gentil, prontificando-se em trocar o espeto por um melhor, enfrentando longa fila de espera.

Todavia, como demorasse em retornar com um espeto melhor e mais bem assado, começaram a descon­fiar do garçom voluntarioso. A suspeita logo se confirmou e tiveram que adquirir outro assado.

 Os dois larápios, ao retornarem para sua cidade, com um espeto para consu­mir, comentavam entre si:

- Não valeu nossa promessa. Temos que voltar novamente no ano que vem, de maneira mais organizada, porque uma promessa deve ser mais bem planejada.

Na volta à cidade, foram à casa paroquial pedir um conselho ao padre, ainda pali­tando os dentes, depois de terem saboreado um gostoso churrasco. E assim justificavam o roubo realizado:

- Para deixar de fumar, todo mundo ensina como fazer; para deixar de to­mar, há muita gente que dá conselhos; mas para deixar de roubar nunca alguém se prontifica em ajudar. Participando da romaria no próximo ano, pensamos que a nossa promessa está de bom tamanho.

A pessoa que rouba não respeita a propriedade e nem a pessoa do outro. Cada um é dono do que conseguiu com o suor de seu rosto ou de outra maneira legítima e tem direito estabelecido sobre os seus bens. Prejudicar alguém através da apro­priação de suas posses, é ofender a Deus no sétimo mandamento: “Não roubar”.

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