Dois conhecidos
larápios concluíram que, para vencer seu detestável vício, deveriam fazer uma
promessa e participar em uma romaria mariana, visando a conversão. Reservaram
seu tempo, organizaram-se e foram a pé, enfrentando os setenta quilômetros de
distância, conforme promessa. A partir de agora, respeitariam a propriedade
alheia, conforme os princípios da fé cristã.
Na longa caminhada até o local, pessoas conhecidas admiravam-se da conversão realizada pelos dois. Afinal, a santa é forte e ninguém pode resistir-lhe aos apelos de mudança de vida.
E assim, em passos largos seguiam a caminhada. Quando finalmente chegaram, cansados e exaustos, continuaram devotamente participando das rezas programadas. Cada pouco, confirmavam um ao outro, a disposição de seguir, de agora em diante, como bons cidadãos, no trabalho e no respeito às coisas alheias.
Chegou o meio dia. Um número incalculável de romeiros vinha da churrasqueira trazendo espetos de churrasco, com sua apetitosa carne assada. A promessa realizada não permitia consumir qualquer comida, somente água. E para não passar pela tentação de consumir algo, não levaram dinheiro consigo. E assim, permaneciam a olhar os tentadores assados de carne, que enchiam os olhos e provocavam um apetite irresistível.
Um devoto já dizia para o outro:
- Eu acho que alguém tem pena de nós e vai oferecer um pedaço de carne.
O outro piedoso romeiro, se autocensurava:
- Não devíamos ter feito essa promessa. Como vamos passar todo dia, sem comer e ainda voltar a pé? Não dá. Penso que vamos cumprir nossa promessa, em outra ocasião. Precisamos nos alimentar.
E caminhando na praça de alimentação, alguém largou um espeto de carne na mesa reservada para a família e os amigos e foi à procura de salada e pão, deixando os familiares à espera.
- Com licença - prontificou-se logo um deles. Sou garçom e este espeto não está bem assado. Vou trocar para vocês e trazer outro bem assado.
Todos se admiravam do servente gentil, prontificando-se em trocar o espeto por um melhor, enfrentando longa fila de espera.
Todavia, como demorasse em retornar com um espeto melhor e mais bem assado, começaram a desconfiar do garçom voluntarioso. A suspeita logo se confirmou e tiveram que adquirir outro assado.
Os dois larápios, ao retornarem para sua cidade, com um espeto para consumir, comentavam entre si:
- Não valeu nossa promessa. Temos que voltar novamente no ano que vem, de maneira mais organizada, porque uma promessa deve ser mais bem planejada.
Na volta à cidade, foram à casa paroquial pedir um conselho ao padre, ainda palitando os dentes, depois de terem saboreado um gostoso churrasco. E assim justificavam o roubo realizado:
- Para deixar de fumar, todo mundo ensina como fazer; para deixar de tomar, há muita gente que dá conselhos; mas para deixar de roubar nunca alguém se prontifica em ajudar. Participando da romaria no próximo ano, pensamos que a nossa promessa está de bom tamanho.
A pessoa que rouba não respeita a propriedade e nem a pessoa do outro. Cada um é dono do que conseguiu com o suor de seu rosto ou de outra maneira legítima e tem direito estabelecido sobre os seus bens. Prejudicar alguém através da apropriação de suas posses, é ofender a Deus no sétimo mandamento: “Não roubar”.