Jamais abdicar da democracia!

Postado por: Ari Antônio dos Reis

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Comparado a muitos países o Brasil é uma democracia ainda muito jovem. Está se consolidando. Neste período de maturação, passou por diferentes ameaças e até suspensões. No último século enfrentamos dois períodos ditatoriais. De 1937-1945 a ditadura de Getúlio Vargas ou o Estado Novo, marcado por perseguições aos adversários políticos e cassação de direitos. Depois de alguns anos de democracia formal, a democracia brasileira sofreu outro revés. Desta vez um golpe militar iniciado em 31 de março de 1964. Este regime durou cerca de 20 anos marcados, dentre outras coisas, pelo bipartidarismo, perseguições políticas e torturas, vastamente documentadas por diferentes fontes de pesquisa.

A memória das ditaduras é dolorosa para muitos cidadãos. Geralmente nas ditaduras suprime-se o direito de escolha dos representantes políticos, abole-se a liberdade de expressão. Também se controla a movimentação interna e externa ou a produção artística e cultural. Investe-se em sistema de vigilâncias dos cidadãos considerados como ameaça ao regime. Em muitos casos, aplica-se a tortura contra as vozes dissidentes. No caso das torturas e perseguições, fere-se o que é considerado um dos pilares da democracia, o respeito à dignidade da pessoa humana. Um sistema que tortura e desvaloriza a vida humana, perde o seu sentido de existir. A doutrina social da Igreja considera como dimensões da democracia a dignidade da pessoa humana, o respeito aos direitos do homem e a consideração do bem comum como fim e critério regulador da vida política (Cf. CDSI 407). Dificilmente um regime ditatorial considerará estes valores.

O novo período democrático brasileiro, inaugurado após vinte anos de ditadura, é recente. O momento simbólico foi a promulgação da Constituição em 1988, denominada a Constituição cidadã. Enquanto regime democrático precisa amadurecer, pois a democrática compreende muito mais do que a possibilidade de votar e ser votado, ou a existência de várias agremiações políticas.    Democracia também tem a ver com justiça social e possibilidade de vida digna para todos os habitantes de uma nação. Um país com fome e miséria tem a sua democracia arranhada.

Algumas manifestações dos últimos tempos têm pedido a volta da ditadura militar ou questionando o regime democrático. Lembro que só podem fazer isso em uma democracia. Estas atitudes podem ser fruto da ingenuidade política e do desconhecimento da história do Brasil. Mas podem se originar em mentes autoritárias que não compreendem a diversidade política como riqueza de uma nação. A ditadura não fez bem para o Brasil. Deixou uma marca negativa em muitas famílias e não impulsionou o progresso como enganosamente se pensa. Não temos notícias de casos de corrupção, porque não havia liberdade de imprensa. Uma leitura crítica dos dois períodos ditatoriais mais recentes verá que eles não podem deixar saudades.

 Nenhum país avança negando os princípios democráticos. A via democrática é o melhor caminho para um país superar seus diferentes entraves, justamente porque ela se abre à participação e responsabilidade de todos e coloca os diferentes organismos de representação sob o controle da população e do Estado de direito.

Não podemos abdicar da democracia. Ela é o princípio e o fundamento de uma nação realmente aberta à construção do bem comum.   

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