O Papa Francisco publicou recentemente a Exortação Querida Amazônia a partir do Sínodo para a Amazônia realizado em outubro de 2019.
Logo na apresentação o Papa escreve três princípios: a) a Amazónia se manifesta ao aos olhos do mundo com todo o seu esplendor, o seu drama e o seu mistério; b) a exortação expressa as ressonâncias provocadas através do diálogo e discernimento diante do compromisso com a evangelização da Amazônia; c) optou por não citar o documento final convidando os interlocutores a lê-lo integralmente, porque um complementa o outro. O Papa deixa explicito o desejo de despertar a estima e solicitude pela Amazônia segundo ele “terra que também é nossa”.
O texto é dividido em quatro capítulos, ou quatro sonhos para a Amazônia, que aliam sugestões doutrinárias e pastorais com poesias. O primeiro é o sonho social. Afirma: “sonho com uma Amazônia que lute pelo direito dos mais pobres, dos povos nativos, dos últimos, de modo que sua voz seja ouvida e sua dignidade promovida”. O primeiro sonho está em sintonia com o compromisso histórico da Igreja com a causa dos pobres, segundo o princípio de que o anuncio do evangelho tem implicâncias sociais (EG 177), reforçado pela compreensão de que no coração do evangelho aparece a vida comunitária e o compromisso com os outros (EG 177), descritos na Exortação Evangelii Gaudium. Também responde aos apelos partilhados no processo de escuta sinodal que indicavam a necessidade de uma presença constante mais qualificada da Igreja junto aos povos da Amazônia em vista às ameaças que sofriam em diferentes dimensões.
O segundo sonho é cultural. Em uma região rica e diversa culturalmente o Papa “sonha com uma Amazônia que preserve a riqueza cultural que a caracteriza e na qual brilha de maneira tão variada a beleza humana”. A diversidade cultural não é considerada um entrave, mas o convite à proximidade, a troca de dons e ao compromisso com o mútuo enriquecimento, que implica também na responsabilidade ética de respeito ao diferente e proteção das culturas ameaçadas.
No terceiro sonho está a referência ao compromisso ecológico já manifesto na Encíclica Laudato Si. Escreve: “sonho com uma Amazônia que guarde zelosamente a sedutora beleza natural que a adorna, a vida transbordante que enche os seus rios e suas florestas”. Reitera o compromisso com o paradigma do cuidado com a obra criada com as características próprias da região plasmado pela espiritualidade ecológica, marcada por novas convicções, atitudes e estilos de vida (LS 202). Compreende também o compromisso com a educação ecológica que permite a acolhida de novos hábitos em vista da preservação daquele ambiente considerado dádiva de Deus.
O quarto sonho é eclesial e dialoga com a missão da Igreja na região. Afirma o papa: “sonho com comunidades cristãos capazes de se devotar e encarnar de tal modo na Amazônia, que deem à Igreja rostos novos com traços amazônicos”. Investe-se na reflexão sobre a inculturação do Evangelho naquelas terras em diferentes aspectos: na formação de missionários comprometidos com os povos da região, na formação de comunidades sintonizadas com as características da região, o papel fundamental das mulheres na obra da evangelização, a convivência ecumênica e inter-religiosa como um desafio a ser assumido.
O papa conclui a exortação convidando todos a “avançar por caminhos concretos que permitam transformar a realidade da Amazônia e libertá-la dos males que a afligem”.
A exortação, aliada ao relatório final sobre o Sínodo, é referência quanto à missão evangelizadora na Amazônia. Certamente não respondeu a todos os anseios das pessoas que foram ouvidas. Contudo procurou dar respostas e apontar um caminho possível e viável para ação eclesial na região. Possamos acolhê-los com luz e referência para todos nós.