Quaresma e Campanha da Fraternidade: dois olhares

Postado por: Ari Antônio dos Reis

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Na quarta-feira de cinzas iniciamos a caminhada quaresmal. Na ocasião foi lançada em todo o Brasil a Campanha da Fraternidade, tendo como tema, “fraternidade e vida: dom e compromisso” e lema, “viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,3-44. Consideramos a Quaresma como oportunidade de conversão, que significa mudança de mentalidade, que implicará na mudança de atitudes. A conversão não é uma atitude estanque. É um processo constante na vida do cristão que se aprofunda tendo como referência o Reino anunciado por Jesus Cristo. O convite a esta caminhada é feito a todos os cristãos e pessoas de boa vontade. Permite, através dos exercícios propostos, especialmente a prática da caridade, oração e jejum, aprofundar o seguimento, compromisso e comunhão com Jesus.

A Quaresma foi a oportunidade para a Igreja no Brasil propor a Campanha da Fraternidade. Desde de 1964 é sugerido um tema para ser refletido pelas comunidades cristãs e, em muitos, casos extrapola a esfera eclesial sendo acolhido pela sociedade.

O tema proposto para este ano convida a dois olhares. O primeiro olhar é para referência bíblica, o texto do samaritano (Lc 10, 25-37). Jesus contou esta parábola, respondendo a indagação do doutor da lei sobre quem seria seu próximo. Possivelmente para ele a “proximidade” era algo dado pela tradição familiar, clânica ou étnica. Jesus sugeriu outro critério de proximidade, tendo como critério a atitude do viajante samaritano. No texto ela é apresentada como contraponto à atitude dos outros dois personagens da história contada, o sacerdote e o levita. Eles encontraram o homem ferido à beira do caminho e não se detiveram para socorrê-lo, passaram pelo outro lado do caminho. Não se fizeram próximos daquele que necessitava de ajuda. O samaritano, contudo, não hesitou em parar a viagem. Ele “viu, sentiu compaixão e cuidou da pessoa ferida”, assumindo todas as consequências da atitude: adiou a viagem, envolveu-se com um desconhecido e gastou dinheiro. Com esta parábola Jesus provocou o doutor da lei a descobrir quem seria o seu próximo. Não era o membro da família ou do clã, ou uma imaginação, mas qualquer pessoa necessitada. Disse mais, ele deveria fazer-se próximo. Olhemos o testemunho do samaritano e descobrimos quem é o nosso próximo.

O segundo olhar se volta para o testemunho de Santa Dulce dos Pobres. O próprio nome diz quem foi esta mulher. Toda a sua vida decorreu em vista da necessidade de cuidar dos pobres da cidade de Salvador - BA. Foi uma mulher de atitude em benefício dos necessitados. O fato já conhecido de transformar um galinheiro em um hospital, diz um pouco da criatividade e ousadia desta mulher. Em muitos momentos a decisão de fazer o bem exige criatividade e ousadia. Santa Dulce nos ensina, como o samaritano, que não existem barreiras para se fazer o bem. Uma atitude interessante como compromisso quaresmal seria conhecermos um pouco mais sobre Santa Dulce dos Pobres.

A partir do testemunho do samaritano e do testemunho de Santa Dulce dos Pobres, referências para uma profunda vivência quaresmal, possamos fazer deste momento um tempo de graça e exercício misericordioso da fé. Se a quaresma é oportunidade de nos encontrarmos com Deus, saibamos que este encontro tem como mediação o nosso próximo, sobretudo o necessitado como afirma um trecho da oração de Tagore: “Quando tento inclinar-me diante de ti, a minha referência não consegue alcançar a profundidade onde os teus pés repousam, entre os mais pobres, mais humildes e perdidos”. Se a quaresma aprofunda no encontro com o Pai compreendamos que Ele está inserido no nosso cotidiano (Mt 25, 31ss), em todos os necessitados dos quais podemos nos fazer próximos. O samaritano e Santa Dulce nos ensinam este caminho.

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