Em certa comunidade vivia uma pessoa que todos qualificavam de inteligente. E pelo fato de ser inteligente ficou com o apelido de “inteligente”. Podia fazer coisas erradas, mas logo era perdoado, pelas travessuras que fazia, porque era inteligente. Quando alguém falava das astúcias ou falcatruas do inteligente, logo vinha a observação: mas ele é inteligente. As pessoas gostavam de serem enganadas pelo inteligente, porque raciocinavam que somente uma pessoa “superior” podia passá-las para trás. Sentiam prazer em estar próximo do esperto, para repassar aos outros um ar de superioridade.
O inteligente candidatou-se a um cargo executivo e todos votaram nele. Como era o mais inteligente do lugar, enganou a tudo e a todos com sua inteligência, pois não havia ninguém com inteligência suficiente para fiscalizá-lo.
Quando alguém colocava uma suspeita sobre a honestidade do “inteligente”, logo vinha a censura das autoridades: “Ele pode ter defeitos, mas você não deve invejá-lo porque ele é inteligente!”.
Mais tarde mudou-se para Brasília. A cidade foi alertada da presença do “inteligente”, com suas safadezas e traquinagens. Mas as pessoas já acostumadas com pessoas inteligentes, conformadas, diziam:
- Em todo lugar tem gente inteligente e em Brasília tem gente “inteligente” de todo lugar.
Os filhos das trevas são mais espertos que os filhos da luz (Lc 16,8), já nos alerta a Sagrada Escritura. Abusa-se da honestidade, como se os honestos fossem pessoas trouxas, ingênuas ou tolas. Todavia, somos desafiados a viver de maneira transparente no respeito aos bens e toda propriedade dos outros.