Iniciamos nesta
quinta-feira santa o Tríduo Pascal. Celebramos estes momentos assustados com a
situação de pandemia que o país vive. Por orientação das autoridades não
estaremos reunidos fisicamente, mas nos unimos na mesma fé, buscando a força, a
coragem e a esperança que Jesus dá. Ele é a razão da nossa fé. Ela será celebrada a partir de nossas casas, a
pequena Igreja doméstica abençoada por Deus.
As celebrações fazem memória de três momentos marcantes na vida de Jesus, com impacto profundo na nossa vida de fé. A celebração (tornar célebre) destes momentos ajuda a comunidade compreender o mistério de Jesus como fundamento do agir dos cristãos. Certamente teremos alguma dificuldade nesses dias pelo fato do isolamento social, mas é a oportunidade de fazermos de cada casa uma célula eclesial disposta a celebrar o mistério de Jesus nestes três momentos.
Na quinta-feira santa celebramos a Ceia do Senhor, momento em que Jesus instituiu a Eucaristia. Naquela noite Jesus partilhou com o grupo dos discípulos o pão e o vinho afirmando ali estar seu Corpo e Sangue, sinal da nova e eterna aliança de Deus com o seu povo. A Eucaristia, junto com a Palavra de Deus, se transforma no sustento da fé do povo. Esta memória é celebrada quando a comunidade se reúne. Junto a instituição da Eucaristia Jesus sugeriu ao grupo o princípio do serviço. Quando lavou os pés dos discípulos explicitou simbolicamente o que deveria caracterizar a sua ação no mundo: não buscar o prestígio e o poder, mas servir a toda a humanidade. Neste dia convidamos as famílias a deixar exposta uma bacia com água e uma toalha como símbolo do agir servidor do cristão.
Na sexta-feira santa celebramos a paixão do Senhor, o momento marcado pela dor e sofrimento de Jesus e também pela insegurança e medo no grupo dos discípulos. A imagem de Maria, João e algumas mulheres aos pés da cruz lembram a dificuldade de todo o grupo compreender aquele momento extremo. Não ficaram muitas pessoas ao lado de Jesus. O discipulado se dispersara. Contudo lembramos que o enfrentamento da cruz foi consequência da missão de Jesus. Ele mesmo explicitava ao grupo dos discípulos esta possibilidade (cf. Mt 16, 21-28; Mt 17, 22-23; Mt 20 17-28) devido as opções que fizera. Também compreendemos que a morte de Jesus foi tramada por aqueles que não aceitaram o projeto do Reino e o viram como ameaça às estruturas as quais defendiam. Não foi morte acidental. Foi organizada pela articulação entre as autoridades judaicas e romanas. Neste dia olhemos para a cruz. O sacrifício de Jesus permitiu que a cruz, antes símbolo da tortura e morte e se transformasse no sinal da opção cristã, do compromisso com o Reino de Deus. Neste dia, durante a oração, as famílias podem usar como símbolo a cruz.
O sábado santo é marcado, em um primeiro momento, pelo silêncio e o recolhimento em oração. É importante este momento de deserto, de introspecção. Neste tempo vamos refletir e rezar o que aconteceu com Jesus. À noite celebra-se a Vigília Pascal, a alegre notícia da Ressurreição de Jesus. Poderemos acompanhar esta celebração com a vela acesa em nossas casas. Toda a simbologia que caracteriza a celebração, sustentada pelos textos bíblicos, permite compreender o significado da Ressurreição de Jesus na vida dos discípulos e para toda a humanidade. Ela foi o grande impulso para uma nova caminhada recomeçada na Galileia (cf. Mt 28, 16-20) quando saíram do medo (cf. Jo 20, 19-23), desânimo (cf. Lc 24, 13-35) e insegurança (cf. Mt 28, 16) e continuaram a missão iniciada pelo Mestre sob o impulso da alegria da ressurreição e na força do Espirito Santo. Acolhamos a boa nova da Ressurreição em nossas vidas. Sejamos seus testemunhos porque o Cristo ressuscitado convida-nos a dar as razões da nossa esperança.
Feliz Páscoa