Páscoa é a maior festa dos cristãos. O seu sentido histórico, porém, remete a uma festa pagã, onde antigos povos celebravam a "passagem" do inverno para a primavera, onde celebravam a fartura dos frutos e das colheitas.
Para os judeus, Páscoa é "Pessach", a passagem da escravidão para a libertação, onde o povo de Deus, escravo do Egito, fez a travessia rumo à Terra Prometida. Com a morte de Jesus Cristo, temos a última e mais recente passagem: da morte para a vida. Os cristãos acreditam e professam que a morte não é o fim, que a salvação de todos nós está na ressureição.
Neste período de pandemia mundial, a celebração da Páscoa reveste-se de novos significados. Este ano, onde podemos encontrar Cristo? Que passagens podemos esperar neste momento histórico?
Descubra, neste poema, onde o Cristo pode estar se revelando nesta Páscoa. Conecte-se a estes que cuidam da nossa vida para que a Páscoa tenha a condição de, novamente, ser um rito e um ato de passagem.
“Quem contou essa história,
que o Cristo este ano não sai?
Se Ele está vestido de branco,
de azul, ou verde, no hospital?
Quem disse que o Nazareno
não pode fazer penitência?
Se todos estão atendendo
doentes nas emergências?
Quem diz que ninguém
há de encontrar Jesus caído?
Veja-o nem cada médico
caindo exausto, rendido.
São
humildes Cirineus
ajudando a cada passo:
socorristas, enfermeiras,
sem descanso, lado a lado.
Como em Jerusalém, em um jumento
entrou o Cristo montado.
Assim os caminhoneiros, noites e noites acordados,
abastecem hospitais, farmácias, supermercados.
O exército e a polícia
patrulham as desertas ruas.
Cuidam das nossas famílias
ficando longe das suas.
E eis que, também no campo,
Jesus semeia a terra, prostrado.
Cuida torres de energia, cava poços,
do mar nos traz o pescado,
colhe hortaliças e pastoreia o gado.
Que ninguém diga que o Senhor
não está nas ruas presente.
Quando, em igrejas solitárias,
os padres celebram missa diariamente.
Que ninguém diga este ano,
“às ruas não sairá o Crucificado”.
Enquanto há uma voz serena
falando com encarcerados.
Ninguém fale que o Nazareno
“este ano não sairá em procissão”,
enquanto há vidas tão plenas
de amor em seu coração.
Com bom humor e sorrisos,
embora, o olhar fatigado,
é Jesus quem nos atende nos caixas
das farmácias e mercados.
Num caminhão, todo dia,
de verde e branco pintado,
Jesus recolhe o nosso lixo
e vai embora sem ser notado.
Quando vejo tanta gente
enterrando seus queridos, sem receber um abraço.
Nossa Senhora da Piedade também sai
das favelas com seu filho nos braços.
E embora nos assuste
esse isolamento sepulcral.
Na solidão, está a fortaleza
daquele que venceu todo mal.
Talvez, não será em imagens esculpidas,
queJesus virá em procissão.
Mas estará em mil faces, sem velas ou soar de sinos,
homenageado com o incenso de pessoas de bom coração.
O amor derruba os muros,
corações não têm fronteiras.
Esta será a Semana mais Santa,
de todas, a mais verdadeira”.
CAIXA DE TEXTO:
Versão musicada por Pablo Morenno.
https://youtu.be/3Wx6J8qhaz0?t=267
Poema do Arcebispo de Lima e Primaz do Perú Monseñor Carlos Castillo Mattasoglio.
Tradução e adaptação de Pablo Morenno.
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