O Cristo, este ano, não sai?

Postado por: Nei Alberto Pies

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Páscoa é a maior festa dos cristãos. O seu sentido histórico, porém, remete a uma festa pagã, onde antigos povos celebravam a "passagem" do inverno para a primavera, onde celebravam a fartura dos frutos e das colheitas.


Para os judeus, Páscoa é "Pessach", a passagem da escravidão para a libertação, onde o povo de Deus, escravo do Egito, fez a travessia rumo à Terra Prometida. Com a morte de Jesus Cristo, temos a última e mais recente passagem: da morte para a vida. Os cristãos acreditam e professam que a morte não é o fim, que a salvação de todos nós está na ressureição.


Neste período de pandemia mundial, a celebração da Páscoa reveste-se de novos significados. Este ano, onde podemos encontrar Cristo? Que passagens podemos esperar neste momento histórico?


Descubra, neste poema, onde o Cristo pode estar se revelando nesta Páscoa. Conecte-se a estes que cuidam da nossa vida para que a Páscoa tenha a condição de, novamente, ser um rito e um ato de passagem.








“Quem contou essa história,

que o Cristo este ano não sai?

Se Ele está vestido de branco,

de azul, ou verde, no hospital?


Quem disse que o Nazareno

não pode fazer penitência?

Se todos estão atendendo

doentes nas emergências?


Quem diz que ninguém

há de encontrar Jesus caído?

Veja-o nem cada médico

caindo exausto, rendido.


São humildes Cirineus

ajudando a cada passo:

socorristas, enfermeiras,

sem descanso, lado a lado.


Como em Jerusalém, em um jumento

entrou o Cristo montado.

Assim os caminhoneiros, noites e noites acordados,

abastecem hospitais, farmácias, supermercados.


O exército e a polícia

patrulham as desertas ruas.

Cuidam das nossas famílias

ficando longe das suas.


E eis que, também no campo,

Jesus semeia a terra, prostrado.

Cuida torres de energia, cava poços,

do mar nos traz o pescado,

colhe hortaliças e pastoreia o gado.


Que ninguém diga que o Senhor

não está nas ruas presente.

Quando, em igrejas solitárias,

os padres celebram missa diariamente.


Que ninguém diga este ano,

“às ruas não sairá o Crucificado”.

Enquanto há uma voz serena

falando com encarcerados.


Ninguém fale que o Nazareno

“este ano não sairá em procissão”,

enquanto há vidas tão plenas

de amor em seu coração.


Com bom humor e sorrisos,

embora, o olhar fatigado,

é Jesus quem nos atende nos caixas

das farmácias e mercados.


Num caminhão, todo dia,

de verde e branco pintado,

Jesus recolhe o nosso lixo

e vai embora sem ser notado.


Quando vejo tanta gente

enterrando seus queridos, sem receber um abraço.

Nossa Senhora da Piedade também sai

das favelas com seu filho nos braços.


E embora nos assuste

esse isolamento sepulcral.

Na solidão, está a fortaleza

daquele que venceu todo mal.


Talvez, não será em imagens esculpidas,

queJesus virá em procissão.

Mas estará em mil faces, sem velas ou soar de sinos,

homenageado com o incenso de pessoas de bom coração.


O amor derruba os muros,

corações não têm fronteiras.

Esta será a Semana mais Santa,

de todas, a mais verdadeira”.


CAIXA DE TEXTO:

Versão musicada por Pablo Morenno.

https://youtu.be/3Wx6J8qhaz0?t=267



Poema do Arcebispo de Lima e Primaz do Perú Monseñor Carlos Castillo Mattasoglio.

Tradução e adaptação de Pablo Morenno.


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