Fé, esperança e caridade em tempos de Covid -19

Postado por: Ari Antônio dos Reis

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Estamos na oitava da Páscoa. Esses dias da semana são celebrados como se fosse o Domingo de Páscoa, a festa da ressurreição do Senhor. Certamente muitas pessoas sofreram por não poder participar das celebrações do Tríduo Pascal na sua comunidade. Contudo foi a oportunidade de fortalecimento da Igreja doméstica. A decisão da quarentena, com implicações sociais e econômicas, foi oficialmente definida em vista de um bem maior, ou seja, para eliminar o risco de maior contágio na população e assim evitar sobrecarregar o sistema público de saúde.

 Além da nossa contribuição social, estes tempos nos motivam à renovação do nosso “ser cristão”, o viver a alegria da ressurreição em tempos de preocupação, mas também de muita solidariedade e criatividade. Este processo se embasa em três princípios que também podem ser as três conhecidas virtudes teologais, marcas históricas do agir cristão. São Paulo na primeira carta aos Coríntios, capitulo 13, tratou deste tema.

O primeiro princípio é a fé. O seguimento de Jesus Cristo em tempos atuais é atitude de fé. Herdamos a fé de nossos pais, da comunidade, ou fizemos uma experiência que determinou a nossa adesão a Jesus Cristo. A leitura dos textos bíblicos deste Tempo Pascal revela o passo que a comunidade dos discípulos precisou dar, acreditar no ressuscitado e não ficar presa à realidade da morte. Alguns tiveram mais dificuldades (Mt 28, 16; Mc 16, 10-14; Lc 24, 15-32; Jo 20, 24-25) em acreditar na boa nova. Contudo, o próprio Jesus se aproximou do grupo de diferentes maneiras para os revigorar na fé. Isso era necessário para que pudessem testemunhar o projeto do Reino. Hoje precisamos desta proximidade com o ressuscitado e somente a fé permite esta experiência. O círio aceso na Vigília Pascal simboliza também o fortalecimento da fé de cada cristão. A Igreja é iluminada na missão pela luz da ressurreição. Por isso, deixemos que Ele entre em nossas vidas, nos nossos lares e nos acalme; dê segurança e nos inspire no agir nestes tempos de dificuldades. A fé permite que façamos a diferença durante a turbulência. A fé não nega a ciência e, neste contexto é a sua aliada, respeitando seus processos, mas também dando a sua parcela de contribuição para superar estes tempos difíceis.

O segundo princípio é a esperança. A fé nos faz pessoas revestidas de esperança. Ela é muito importante nestes tempos de angústias, medo e insegurança quanto ao futuro. A esperança está na essência humana. Ela é o motor da nossa vida. Na celebração da Vigília Pascal o Papa Francisco afirmou que, pela Ressurreição, Jesus Cristo nos legou um direito que ninguém poderá nos tirar, o direito à esperança. Disse O Papa: Nesta noite, conquistamos um direito fundamental, que não nos será tirado: o direito à esperança. É uma esperança nova, viva, que vem de Deus. Não é mero otimismo, não é uma palmada nas costas nem um encorajamento de circunstância. É um dom do Céu, que não podíamos obter por nós mesmos. Tudo correrá bem: repetimos com tenacidade nestas semanas, agarrando-nos à beleza da nossa humanidade e fazendo subir do coração palavras de encorajamento. Mas, à medida que os dias passam e os medos crescem, até a esperança mais audaz pode desvanecer. A esperança de Jesus é diferente. Coloca no coração a certeza de que Deus sabe transformar tudo em bem, pois até do túmulo faz sair a vida. A esperança nos move a superar as dificuldades.

Logo após a ressurreição a situação não foi facilitada para dos seguidores de Jesus. Pelo contrário, as perseguições continuaram. Contudo a Ressurreição lhes deu forças para enfrentarem com coragem aquelas dificuldades, inclusive com suas vidas em risco. Sejamos pessoas de esperança e ajudemos os que estão fraquejando a recuperarem a esperança. O ressuscitado motiva a tomarmos esta atitude.

O terceiro princípio é a caridade. Compreendamo-la como a atitude que nos aproxima dos outros, não em vista do nosso bem, mas em vista do bem do irmão. Por isso, a caridade é atitude pessoal. Jamais pode ser terceirizada, porque só a pessoa pode fazer a experiência da caridade, como o samaritano fez ao socorrer o homem ferido à beira do caminho.  A caridade também é fator de conversão. A transformação que poderá acontecer na vida do outro pelo bem feito já aconteceu em nós pelo fato de olharmos além da nossa vida pessoal e partilharmos até mesmo o que poderia nos faltar, porque somos filhos do mesmo Pai e habitamos juntos na casa comum, a casa de toda a humanidade. A caridade implica no esforço em tornar a vida do irmão menos sofrida e mais digna. Ainda não temos uma leitura total das dificuldades das pessoas, sobretudo das famílias pobres, nestes tempos de crise. Contudo, o pouco que sabemos nos impulsiona a dar este passo tão importante.  Urge nos desacomodarmos em vista do bem do outro.  

Estes três princípios estão no nosso horizonte. Cabe, rezar, refletir e agir assumindo-os em nossa vida.

 Que o Espírito Santo nos inspire nestas atitudes.

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