Assim como os discípulos de Emaús

Postado por: Ari Antônio dos Reis

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Foi marcante o evangelho proposto às comunidades católicas no domingo passado, terceiro domingo da Páscoa. O texto dos discípulos de Emaús (Lc 24, 13-35), narrou o encontro de Jesus ressuscitado com duas pessoas que saíam de Jerusalém após o episódio da sua morte na cruz. A imagem das duas pessoas tomando o caminho de saída de Jerusalém evoca a situação da comunidade cristã que ainda não tinha compreendido e acolhido a novidade da ressurreição do Filho de Deus. Era uma comunidade ainda mergulhada na morte e na derrota. Os dois discípulos saíam da cidade como que derrotados, inseguros e com medo. Não havia muito o que fazer. O texto, em seguida, apresenta a estratégia de Jesus para ajudá-los a compreender aquele momento que não deveria ser marcado pela morte ou derrota, mas pela alegria da ressurreição e a responsabilidade pela continuidade da missão do Filho de Deus com entusiasmo, fé e esperança. Jesus os ajuda a reler a história para situarem-se no contexto e darem outro passo em suas vidas.

 Lucas, autor do evangelho, descreve com maestria os diferentes momentos deste encontro que motivou a dupla a voltar para Jerusalém e encontrar-se com a comunidade dos discípulos, partilhando a experiência com o ressuscitado.  Compreendamos que as estruturas políticas, econômicas e religiosa que levaram Jesus à morte não haviam mudado. Os inimigos de Jesus se imaginavam vitoriosos, porque imaginavam ter dado um fim, de forma humilhante, a mais um visionário ou pretenso messias. Eles ainda continuavam em Jerusalém, defendendo as estruturas que levaram Jesus à morte.  Mas o que mudou então?

Mudou a forma como o grupo dos discípulos encarou aquela situação. O retorno da dupla, que fugia para Emaús, para a cidade de Jerusalém revela a renovação do grupo que seguia Jesus. Tem um simbolismo muito forte. A mesma cidade que presenciou a morte de Jesus deveria presenciar a continuidade da missão no testemunho do grupo que esteve com ele até a morte na cruz, enfrentou o vazio, mas que agora se apresentava à cidade renovado na fé e na esperança. Eles se apresentaram para a missão justificados pelo encontro com o ressuscitado. O contexto difícil permanecia. Contudo a índole do grupo era outra. 

Estamos vivendo um tempo difícil. Quem não pensou em “fugir para Emaús” como aquela dupla? Quem não sente um aperto no coração quando pensa na situação do nosso país? Vidas estão ameaçadas. Os pobres estão cada mais ameaçados na sua existência. Encontramos gente chorando. Pequenos empregadores tristes porque seu lugar de sustento e sobrevivência pode fechar. Outros inseguros porque correm o risco de perder o emprego. Não sabemos até quando o perigo vai permanecer. O que fazer? Certamente não seremos mais os mesmos depois desta pandemia. O mundo não será o mesmo. A pandemia mostrou o quanto somos frágeis e como são falsos alguns pilares sobre os quais a sociedade tenta se estruturar. Como é hábito dizer: “somos apenas um sopro”.

Contudo temos alguns recursos. Quanta solidariedade estamos presenciando. Quanta garra e coragem em nosso povo.  Vemos também muitas pessoas partilhando o pouco que têm com alegria e sem alardes. Empregadores fazendo alianças para garantir o emprego dos seus funcionários, apesar do futuro incerto, porque sabem que este emprego é fundamental. Na máscara costurada, no quilo doado está o desejo de facilitar a vida do outro.   No meio de tantas trevas vamos percebendo algumas luzes. Estas luzes vêm daqueles e daquelas que querem ajudar. São como Jesus que entra no caminho e diz que não convém fugir. A luta deve continuar indo ao encontro  com os outros a fim  de pensar em estratégias para dar conta da missão. O pouco que se faz será muito. A ameaça permanece muito viva e presente como nos tempos após a morte e ressurreição de Jesus. Ela não mudou. O que vai mudar é a forma como poderemos encarar esta ameaça.

 Não fujamos para Emaús. Fiquemos em Jerusalém e faremos o que precisa ser feito. 

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