Papa Francisco: um líder para estes tempos difíceis (2)

Postado por: Ari Antônio dos Reis

Compartilhe

Em artigo na semana passada, ao refletir sobre a liderança do Papa Francisco, recordávamos, seus gestos e escritos que o colocam como um guia nestes tempos difíceis. Continuemos a reflexão partilhando outras sugestões.

O Papa Francisco compreende a Igreja como uma mãe que acolhe a todos e quer cuidar de todos, especialmente os mais pobres. Nesta perspectiva encontrou-se em dois momentos com integrantes dos Movimentos Populares, primeiramente em Roma (2014) e depois em Santa Cruz de la Sierra (Bolivia-2015). Foram tratados temas fundamentais voltados à sobrevivência dos homens e mulheres pobres: terra, teto e trabalho.

Terra para cultivar, no caso dos agricultores; casa para que as famílias sejam abrigadas com dignidade; trabalho que permita ao ser humano, pelo esforço próprio e criativo, realizar-se como pessoa.  São realidades estruturantes da vida humana. São os elementos constitutivos da vida digna, segundo a proposta de Jesus, que afirmou ter vindo para que todos tivessem vida e vida em abundância (Jo 10,10).   Terra, teto e trabalho são dimensões da vida que não podem ficar submissas às forças do capital, justamente pelo fato deste colocar o lucro acima de tudo. Segundo o Papa Francisco são direitos sagrados que enfocam a centralidade da pessoa em plena consonância com a Doutrina Social da Igreja.

O Papa também convidou o mundo todo a olhar para a Amazônia.  O Sínodo para a Amazônia (2019) que contou com a presença de bispos, agentes de pastoral e assessores com atuação comprometida com aquela região, revelou a sua preocupação com os povos da Amazônia como explicita o objetivo do encontro sinodal:  “identificar novos caminhos para a evangelização daquela porção do Povo de Deus, especialmente os povos indígenas, frequentemente esquecidos e sem perspectivas de um futuro sereno, também por causa da crise na Floresta Amazônica”. O Sínodo originou a Exortação Querida Amazônia, a manifestação do Papa sobre como compreendia o caminho de evangelização da Amazônia. No documento esclarece, em quatro capítulos, seus sonhos em relação à Amazônia, o sonho social, sonho cultural, sonho ecológico e sonho eclesial. Sonhar com alguém ou como alguma coisa significa querer bem. O Papa quer bem a Amazônia e seus povos.  

Chamo a atenção para outros eventos mais recentes e de grande alcance no que diz respeito ao projeto do Papa Francisco para a Igreja e a humanidade.

Em maio de 2019 convidou os jovens para discutir a economia, evento primeiramente agendado para março de 2020. Segundo ele um evento que: “permita encontrar-me com quantos estão a formar-se e começam a estudar e a pôr em prática uma economia diferente, que faz viver e não mata, inclui e não exclui, humaniza e não desumaniza, cuida da criação e não a devasta. Um acontecimento que nos ajude a estar unidos, a conhecer-nos uns aos outros, e que nos leve a estabelecer um “pacto” para mudar a economia atual e atribuir uma alma à economia de amanhã”.   O Papa está preocupado com a economia. Quer refletir sobre o tema junto com pessoas com capacidade de imprimir novos horizontes para a economia porque a forma como está sendo gerida não gera vida, mas morte. É uma economia que mata (EG 53). Para Francisco desponta a necessidade de exercitar um modelo econômico novo, fruto de uma cultura da comunhão, baseado na fraternidade e na equidade.

Em sintonia com a reflexão sobre a economia está a reflexão sobre a educação. Os dois processos estão em andamento e sofreram modificações no seu curso por motivo da pandemia.

O Papa está preocupado com a educação. Ao pronunciar-se no encontro “Educação: O Pacto Global”, promovido pela Pontifícia Academia das Ciências Sociais em fevereiro deste ano, afirmou que “é necessário unir esforços para alcançar uma aliança educacional ampla a fim de formar pessoas maduras, capazes de reconstruir o tecido relacional e criar uma humanidade mais fraterna”.  A proposição de debates no âmbito da economia e da educação estão na esteira das outras proposições do Papa. Compreendamos como o convite para se discutir os rumos da humanidade. O fermento foi lançado e está levedando a massa.

 E, neste tempo de pandemia, Francisco tem se pronunciado sobre as dificuldades que assolam o mundo. Primeiramente chamando atenção para uma sociedade que adoecia e não se percebia da enfermidade. Disse ele no dia 27 de março: “Na nossa avidez de lucro, deixamo-nos absorver pelas coisas e transtornar pela pressa. Não nos detivemos perante os teus apelos, não despertamos face a guerras e injustiças planetárias, não ouvimos o grito dos pobres e do nosso planeta gravemente enfermo. Avançamos, destemidos, pensando que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente. Agora nós, sentindo-nos em mar agitado, imploramos-Te: Acorda, Senhor! ”

Diante da situação difícil ele também tem nos convidado a manter a fé, a esperança e a serenidade. Motiva a agir com solidariedade, cuidando-nos uns dos outros até que a tempestade passe.

 Temos um líder que tem carinho por nós. Como um bom líder não deixa de ser crítico. É o nosso pai. Contudo, não deixa de apontar caminhos para a humanidade e os critérios deste caminhar.   Possamos acolhê-los com humildade como um filho acolhe as orientações do pai.

Leia Também Viver à altura do Evangelho A Palavra de Deus O menino e as uvas Ciência: aprender com o passado e olhar para o futuro