A vida humana em primeiro lugar

Postado por: Ari Antônio dos Reis

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Estes dias, em conversa com uma pessoa da comunidade ouvi a sugestão de colocar na frente da igreja da uma faixa com os dizeres “tenhamos fé, tudo vai passar”. Certamente vai.  O dizer explicita a esperança que está em nossos corações.  Precisamos acreditar nesta superação. É a força que nos faz andar.  Ainda estamos no meio de um momento muito difícil, ainda inseguros e como medo, mas a fé ajudará atravessarmos esta tempestade.

 Para tanto cabe nos colocarmos em disposição de acolhida à orientação que Jesus deu ao discipulado na perspectiva das tribulações, “não tenham medo” (Mt 10,31).  Neste percurso marcado pelo medo e insegurança reconhecemos que Jesus está conosco e se faz o nosso companheiro, estendendo a mão quando estivermos cansados ou fraquejarmos (Mt 14,31). A fé gera a confiança e também o compromisso de colaborarmos para que tudo se resolva com serenidade.

A tarefa maior, a partir da nossa fé, é preservar a vida humana.  A vinda de Jesus ao seio da humanidade estava voltada à preservação da vida como ele falou: “eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).

A vida como bem maior, defendida por Jesus, parece algo dado como tranquilo, indiscutível, mas não é bem assim. Além das tantas vidas perdidas por violências, enfermidades e fome, estamos perdendo vidas por causa do COVID 19. Segundo os dados de ontem, 22 de julho, somam mais 82.000 pessoas. Isto não é bom. Infelizmente ainda ouvimos expressões banalizando estas mortes. Recordemos. São vidas que se perdem, são famílias enlutadas, filhos sem pais, pais sem filhos e, em muitos casos, sem um rito de despedida, uma prece de adeus. Não podemos compreender isto como normalidade, porque a vida, segundo a tradição cristã, está acima de todos os processos e deve cumprir seu ciclo deste a concepção até o seu ocaso natural.

O texto da Campanha da Fraternidade deste ano já fazia uma alerta sobre algumas situações envolvendo não só a vida humana, mas a vida do Planeta: percebe-se que não estamos cuidando como deveríamos deste amoroso presente divino. Nosso Planeta adoeceu pela falta do respeito e cuidado humano.

A preocupação chega ao ser humano. Continua o texto: constata-se que chegamos a um ponto em que até mesmo a nossa condição humana mais profunda esbarra em uma série de angustiantes indagações. Certamente a pandemia aprofunda estas indagações. Nos damos conta da nossa fragilidade e que a pretensa onipotência, aliada à prepotência era vazia. Lembremos a ideia de que somos um sopro, uma chama de vela vacilante, que pode se apagar a qualquer momento.

 Já víamos de uma trajetória de descompromisso social com a vida das pessoas pobres, sustentado na cultura do descarte em vista do bem do mercado financeiro, segundo alerta do Papa Francisco: o ser humano é considerado, em si mesmo, como um bem de consumo que pode se usar e depois jogar fora. Assim teve início a cultura do descartável, que aliás chega a ser promovida (...) os excluídos não são explorados, mas resíduos, sobras (EG 53). É um grande pecado que fere a Deus, pois todo o ser humano é criado amorosamente a sua imagem e semelhança (cf. Gn 1,26).

É tempo, diante da enfermidade planetária, que tem afetado toda a criação e de forma direta a vida humana, de recuperarmos a dimensão do cuidado.  Sofremos uma boa chamada de atenção vinda da natureza. Acolhamos com humildade e tenhamos a disposição de nos recuperarmos no mundo criado começando pelo cuidado com a vida humana. Ela está em primeiro lugar, sobretudo porque neste momento é a mais fragilizada.

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