Como agir? Tradução do verbo inglês “to do” que, na sinodalidade pastoral, transformou-se em livro de cabeceira à vida cristã, a partir de interlocuções juvenis. O prefácio do DOCAT, é uma elocução do Sumo Pontífice à juventude: “Queridos amigos jovens! Só a conversão do coração pode tornar mais humana a nossa terra cheia de terror e de violência. E isso significa paciência, justiça, prudência, diálogo, integridade, solidariedade com as vítimas, com os pobres e os ainda mais pobres, dedicação sem limites, amor que vai até a morte pelos outros. Se tiverdes compreendido isto profundamente, então como cristãos comprometidos podereis transformar o mundo.” É construção via participação em alteridade sinodal a partir da experiência humana com vistas à Civilização do Amor, o projeto do Reino de Deus.
É prudente à reflexão uma questão apresentada pelos jovens no DOCAT: “Por que é que a Igreja tem uma Doutrina Social?” Somos seres sociais. Vivemos em contínua alteridade relacional, uns para com outros(as). A experiência bíblica, por exemplo, compartilha a relação humana com o transcendente, seja no Primeiro ou no Segundo Testamento. Deus revela-se à comunidade, primeiro via Palavra e depois este verbo, torna-se carne, pessoa, habitando a sociedade com rosto humano, em Jesus histórico (Jo 1,14). A ação pastoral e sacramental da Igreja, portanto, entende-se diretamente ligada à vida, às pessoas em suas diversas realidades sociais, culturais, afetivas, organizacionais, etc. Neste ínterim, a Doutrina Social abarca dois objetivos, pode-se dizer: 1) “Enfatizar as obrigações da ação social e justa, tal como aparecem no Evangelho. 2) Protestar em nome da justiça, sempre que estruturas sociais, econômicas ou políticas contradizem a mensagem do Evangelho.”
Por quê? À fé cristã prima-se a dignidade humana, a “Vida Plena” (Jo 10,10). Poder-se-ia dizer, parafraseando o Papa Francisco que “todos os cristãos, incluindo os Pastores, são chamados a preocupar-se com a construção de um mundo melhor [...]. A Doutrina Social é primariamente positiva e construtiva, orienta uma ação transformadora e, neste sentido, não deixa de ser um sinal de esperança que brota do coração amoroso de Jesus Cristo” (EG, n.183). Há um horizonte de sentido maior à ação cristã na vida sócio eclesial, certo?
Viktor E. Frankl redigiu e compartilhou com o mundo, a experiência extrema relacional humana, a partir do campo de concentração durante a II Guerra Mundial. Conhecemos, entre aspas, a história e as tensões de alteridade provocadas em contextos conflitivos, não é verdade? Atualizou-se talvez, a Paixão de Cristo, presente em cada pessoa, imagem e semelhança de Deus, na cruz social dos campos de extermínio, reflexos da perca do horizonte de sentido, via guerra mundial. Causa-me arrepios escutar a expressão “Auschwitz”, sabe? Frankl, no livro “Em busca de Sentido” procura traduzir, descrevendo a partir de seu coração humano e a experiência de esvaziamento último, aquilo que toca a essência do humano e contribui para a construção de sentido à ação capaz de transcender uma situação extremamente desumanizadora, salvaguardando a liberdade interior (espiritualidade), para assim preservar e nunca renunciar o sentido da vida. O amor transpõe-nos, acredito.
Quando reverbera em nós, amados(as) jovens, a amorosidade do coração revolucionário de Jesus Cristo, certamente, somos interpelados(as) por inúmeras questões, perguntas, tensões que nos evocam a dizer: “Como agir?” Que fazer diante de tal situação, realidade, contexto? Na experiência contemporânea, dentre as “santas inquietações” pulsantes em nossos corações, soma-se a inseguridade humano social da pandemia, não é? Cuidar a dignidade humana é o princípio primeiro à qual propõe-se a orientação da Doutrina Social, isto é, a tradução do mandamento máster do Evangelho: Amar! O amor não tem fronteiras e amar transpõe limites, inclusive a morte, pois, Cristo Vive (Christus Vivit).
Recordo que o DOCAT, nasce em 2016, como instrumento popular à ação cristã, especialmente, juvenil. Em 2017, a saber, com o objetivo de promover um intenso debate de inclusão social e combate ao preconceito e discriminação das pessoas com deficiência, por exemplo, foi sancionada a Lei 13.585, instituindo a Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla, entre os dias 21 e 28 de agosto de cada ano. Estamos vivenciando, nestes dias, o tema: “Protagonismo empodera e concretiza a inclusão social.” Que tal, envolver-se nesta proposta? Há infinitas possibilidades de interação, pois, a semana aborda aspectos envolvendo atividade física, inclusão no trabalho, vida sexual, direitos e educação das pessoas com deficiência intelectual e múltipla. Cabe refletir políticas públicas, à dignidade humana, na realidade sócio econômica, político cultural, entre outras, não?
Apresentações culturais acontecem a partir da amorosidade criativa, envolvendo pessoas, famílias e grupos. Pelas redes sociais, acompanho a ciranda da inclusão proposta pelo desafio de dança da família Apaeana Laços de Ternura, a partir da canção “Mona Lisa” do grupo musical Modern Talking. Quanto amor nos singelos e significativos gestos, sinalizados pela arte, a envolver famílias da comunidade. Desperta-me tal desafio! E, por que lançar-se? O rosto de Deus sorri ao dançar o amor à inclusão social! A “Alegria do Evangelho” revela-se em cada pessoa, via práxis sócio pastoral, além fronteiras e ou cercanias. “Vinde ver!” Há algo muito maior à conhecer, sabe? (Jo 1,46-50).
Padre Leandro de Mello - @padreleojuventude
Passo Fundo, 25 08 2020