Te
desejo vida, amada(o) jovem, longa vida, pois, “és precioso(a) a meus olhos. Eu te amo” (Is 43,4), em Jesus Cristo
(1Cor 16, 24)! E, talvez, haja inquietações à vida, à sociedade, às relações em
alteridade, à Deus, não é? Viver convida à ação, à interatividade, à
comensalidade, sabe? “Tudo o que move é sagrado e remove as montanhas com
todo o cuidado [...]. Sim, todo amor é sagrado e o fruto do trabalho é mais que
sagrado,” recorda a canção. Repleto de sentido, pleno, como a “abelha fazendo
mel vale o tempo que não voou.” Mais! O próprio descanso, o lazer, a arte, a
cultura, o sono, são elementos sagrados à dignidade humana, pois, cada qual em
si, “alimenta de horizontes o tempo acordado de viver” (Amor de índio – Beto
Guedes/Maria Gadú). São bens comuns caros à humanização integral, entende?
Desejar vida transpõe, sem esquecer, conceitos afetivos! Flávia Venceslau cunhou e interpreta, artisticamente, ao cantar: “Eu te desejo vida, longa vida [...] pra fazer teus planos” com paz, com fé, capazes de mover montanhas. Protagonismo que faça sonhar, porém, não sozinho(a); antes, articulado, com “mais de mil amigos,” pais, avós, a poesia, o coração “cheio de esperança” (Te desejo Vida). A saber, “encontrar novos caminhos com criatividade e audácia” (ChV, n.203). Como fez a jovem e encantadora Ester, na experiência bíblica transcrita pelo primeiro testamento, ao preservar a vida, preocupada com o bem comum da sociedade.
A realidade exílica e violenta a qual experimentou o povo de Judá, agravou-se quando o contexto imperial dominante, aproximadamente 500 anos a. C., desenvolveu um projeto político econômico de extermínio à população judaica. Ester, órfã de mãe e de pai, cresce sob cuidados do tio, chamado Mardoqueu, e juntos são compreendidos como modelos de sabedoria e íntegro cuidado, pela fé, ao povo. “Meu desejo é que me seja concedida a vida, e meu pedido é em favor do meu povo” (Est 7,3), evocou Ester, atenta ao cuidado integral da vida e da sociabilidade estatal. O grito astuto e articulado às relações pró-vida, reverberado por Ester, traduz outros gritos, quiçá, contemporâneos, alguns talvez silenciados até, porém, evidentes. São vozes femininas e masculinas a ecoar protagonismo cívico juvenil, à luz do Evangelho.
A vida enquanto desejo primordial, implica por exemplo, desenvolver com engenhosidade uma ação sócio eclesial participativa e corresponsável de sujeitos cidadãos, como recorda a doutrina social ao refletir o princípio do bem comum, compreendendo-o como “o conjunto das condições da vida social que permitem, tanto aos grupos como a cada um dos seus membros, atingir mais plena e facilmente a própria perfeição” (GS, 26). “Juntos somos mais fortes” propõe o capítulo segundo do DOCAT refletido em diálogo, Igreja e Sociedade, ao dispor perguntas, tais como: “Até onde se pode envolver a Igreja em questões sociais? A Igreja não ultrapassa a sua competência quando se pronuncia sobre questões sociais?”
Charles-Louis de Montesquieu (1689-1755), teórico político, expressou: “o que não beneficia a colmeia, também não beneficia a abelha.” Ao escrever a encíclica Caritas in veritate, em 2009, Bento XVI disse: “amar alguém é querer o seu bem e trabalhar eficazmente pelo mesmo. Ao lado do bem individual, existe um bem ligado à vida social das pessoas: o bem comum. É o bem daquele ‘nós-todos’, formado por indivíduos, famílias e grupos intermédios que se unem em comunidade social” (CV, n.7). Desejar vida, pelo bem comum, corrobora à construção plena de sujeitos no bem viver societário.
O compromisso social comunitário é, neste ínterim, antibiótico às crises antropológicas, econômicas, políticas, culturais, sanitárias, dentre outras mazelas e injustiças à vida e sua plena condição. “Abre tua mão para o teu irmão” (Dt 15,11), busca o Reino de Deus e a sua justiça com prioridade e tudo vos será garantido (Mt 6,33), exorta a Palavra, o Evangelho, em ambos testamentos. Pela graça, em seu projeto salvífico, Deus ama a humanidade e a glorifica, em Jesus Cristo, nascido pessoa, Emanuel (Deus conosco). Ora, cada cristão(ã) é chamado(a) ao amor, a “querer o bem comum e trabalhar por ele é exigência de justiça e de caridade [...] conforme a sua vocação e segundo as possibilidades que tem de incidência na pólis” (CV, n.7).
Desejar vida, por fim, exorta à construir pontes (EG, n.67), à sinodalidade pastoral (ChV, n.203), à solidariedade, capazes de abrir caminhos à outras transformações. Neste construto, a doutrina social da Igreja comporta importante dimensão interdisciplinar que, para melhor encarnar-se aos contextos sócio político econômicos, mutáveis continuamente, dispõe-se à dialogar. É importante dizer que “para Igreja, a mensagem social do Evangelho não deve ser considerada uma teoria, mas sobretudo um fundamento e uma motivação para a ação” (CA, n.57).
Há 198 anos, “ouviram do Ipiranga as margens plácidas, de um povo heroico o brado retumbante,” – poetizou Joaquim Osório Duque Estrada – registrado à história: “Independência ou morte!” vociferado pelo jovem Pedro. “Mas, se ergues da justiça a clava forte. Verás que um filho teu não foge à luta” neste contexto contemporâneo, articulando outras vozes, à dizer: “Vida em primeiro lugar!” Desejo, via doutrina social, ser instrumento à sinodalidade que exige escuta, discernimento e tomada de decisão na alteridade sócio eclesial à luz do Evangelho, pela inspiração do Espírito Santo, ao cuidado integral da vida e do bem viver, amadas(os) da Terra de Santa Cruz, Brasil!
Padre Leandro de Mello - @padreleojuventude
Passo Fundo, 08 09 2020