Eis-me aqui, envia-me! (Is 6,8)
Estamos entrando no mês de outubro de um ano marcado pela necessidade de superações de dificuldades nas várias dimensões da nossa vida. Com maior ou menor intensidade todos fomos afetados pela pandemia da Covid 19 e estamos ainda nesta travessia difícil e preocupante que já apresenta suas consequências. Entretanto, temos uma herança que permite ler e agir no mundo de um jeito diferenciado. A fé coloca esperança em nossos corações e nos faz andar superando as diferentes tempestades.
Não temos todas as certezas, mas sabemos que é necessário continuar caminhando com esperança e confiança nas nossas forças, sendo capazes de proteger e cuidar da vida, sobretudo a vida desprotegida como ensina o samaritano (Lc 10, 33). O mês de outubro nos proporciona duas possibilidades de fortalecimento da nossa experiência de fé. A referência ao fortalecimento é porque a fé, herança familiar e eclesial, necessita ser alimentada cotidianamente sob o risco de fenecer. O dom dado compreende a reciprocidade da alimentação pela oração e outros diferentes exercícios, especialmente a prática do bem. As duas possibilidades são a devoção do Rosário e a ação missionária.
A devoção do Rosário é muito antiga e recorda a força da oração em tempos de adversidades, quando a confiança na intercessão a Nossa Senhora foi de fundamental importância. A oração do rosário é uma troca de oferendas. A comunidade orante oferece rosas (rosário) a Nossa Senhora através da prece da “Ave Maria”, buscando a intimidade e proteção da mãe. Faz isso na certeza da escuta e intercessão por parte da mãe que se dispõe ao cuidado e proteção de todos, segundo o pedido de Jesus aos pés da cruz, quando entregou a mãe para a humanidade e também entregou a humanidade para a mãe (cf. Jo 19, 25-27).
O caminho de manutenção desta relação significativa passa pela oração e, certamente, a “oração do rosário”, motivada para o mês de outubro. O terço, parte da oração do rosário, rezado individualmente ou comunitariamente, constrói uma corrente de fé a partir da devoção a Nossa Senhora marcada pela simplicidade e devoção. Não é mera repetição de palavras. Cada rosa oferecida a Maria carrega a vida, as preocupações e os agradecimentos da pessoa em oração.
Sabiamente a Igreja ligou a oração do rosário à participação de Maria na vida e missão Jesus. E realmente não são projetos separados. De forma diferenciada mãe e Filho se doam para o projeto salvador desejado por Deus. Maria pela maternidade e discipulado. Jesus convidando todos ao compromisso com o Reino por Ele anunciado e desejado por Deus (Mc 1,14). Pelos mistérios rezados no rosário se fortalece o compromisso com Jesus, pois Maria aponta para o seguimento do Filho, porque participou da sua vida.
Outra dimensão importante na ação evangelizadora está no compromisso missionário. O mês de outubro reforça esta convicção. As comunidades são convidadas a refletir o compromisso missionário da Igreja, lembrando que a identidade eclesial está na missionariedade, que se origina da missão da missão do Filho e da missão do Espírito Santo, segundo desígnio do Pai (cf. AG 2).
O desafio de refletir sobre a missão é constante na Igreja. Significa a cada tempo debruçar-se sobre o que é importante, porque esteve desde o começo da atividade apostólica da Igreja (cf. Mt 28, 1-20; Mc 16,15; Lc 24, 44ss; At 1,8), estendendo-se até os dias atuais. A sugestão deste ano parte do tema “a vida é missão” e o lema “eis-me aqui, envia-me” (Is 6,8). Vê-se que o tema dialoga com a proposição da Campanha da Fraternidade 2020, também voltada ao cuidado e proteção da vida a partir tema “fraternidade e vida: dom e compromisso” e o lema extraído do evangelho de Lucas “viu sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33s). Também está relacionada com a reflexão proposta para o mês da Bíblia que sugeria, a partir do livro do Deuteronômio, o lema “estende a mão para o teu irmão” (Dt 15,11).
Assim como o profeta Isaías somos convidados a acolher o convite do Senhor para a obra missionária, essência do agir eclesial. De formas diferenciadas é possível viver a fé missionária, contribuindo, a partir do compromisso pessoal, para que a Igreja assuma sem hesitação a estratégia pastoral de ser uma “Igreja em saída” como pede o Papa Francisco (EG 46). Neste sair ela se renova e se faz mais fiel ao Evangelho, porque oferece a vida em Jesus Cristo (EG 49) especialmente aos pobres e doentes, muitas vezes desprezados e esquecidos. O Papa ainda afirma o vínculo indissolúvel da nossa fé com os pobres. E pede. Não os deixemos jamais sozinhos (cf. EG 48).
Ao oferecer-se para a obra de Deus Isaías assumiu a missão profética (Is 6,8). Nestes tempos, o Pai aguarda também o nosso serviço. Nos prontifiquemos em tomar parte de uma Igreja e missionária comprometida com o cuidado com a vida.