Nesta
semana a Arquidiocese de Passo Fundo está celebrando a novena em preparação à
Solenidade de Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do Brasil. A devoção mariana está fundamentada na
Sagrada Escritura que apresenta de forma fidedigna a presença de Maria na vida
de Jesus Cristo, o Filho de Deus e Salvador da humanidade e junto ao
discipulado após a Ressurreição. Além da Sagrada Escritura a tradição eclesial
reconhece a presença de Maria como um aporte significativo na missão
evangelizadora. O encontro com Maria através das tantas devoções leva a pessoa
a encontrar-se com Jesus e a experimentar a alegria de ser evangelizada. Compreendemos
que a presença de Maria pode estar articulada em três dimensões: a maternidade,
o discipulado, a missionariedade.
A trajetória de Maria como protagonista no projeto salvador da humanidade começou com a visita do anjo Gabriel (Lc 1,26) que desencadeou a maternidade do Salvador. Vê-se que ela estava com sua vida organizada quanto ao futuro. Se avizinhava o casamento com José e constituição de uma família. A visita do enviado de Deus mudou este percurso. Deus lhe apresentou outro projeto e este necessitava a sua colaboração. Após o diálogo com anjo tentando compreender a tarefa, Maria manifestou o assentimento. Se apresentou como a serva do Senhor, disposta a cumprir a sua vontade (Lc 1,38).
A partir da maternidade Maria contribuiu com o projeto salvador. Certamente não foi uma missão tranquila, pois teve que enfrentar as agruras do nascimento do Filho fora da sua cidade (Lc 2, 1-7) e um exílio precoce no Egito, devido ao medo e a violência de Herodes (Mt 2, 13-18). Foi também marcada pelas alegrias, primeiramente quando os pobres (pastores) vão até a gruta manifestar sua alegria pela vinda do menino (Lc 2, 8-13). Quando os magos se apresentaram com presentes expressando que aquela novidade era motivo de satisfação para toda a humanidade (Mt 2, 11). No Templo presenciou o momento em que Simeão e Ana cantaram louvores a Deus porque aquele que libertaria Jerusalém estava no seu meio. Era o Messias esperado (Lc 2,26). A maternidade de Maria foi marcada também pela alegria de perceber que o seu Filho, ainda menino, agia de um jeito diferenciado e gerava admiração nos interlocutores ((Lc 2, 46) e crescia em saberia e graça. Infelizmente muitas mães de nossos dias vivem a maternidade marcada pelas negações a começar pela falta de condições mínimas de exercício do ser mãe.
Outra etapa significativa na vida de Maria foi o discipulado. Antes precisou assimilar que o Seu Filho tinha uma tarefa especial e necessária. Era o verbo encarnado do Pai para conduzir a humanidade à salvação. Maria foi desafiada a entender que a sua relação com o Filho deveria superar os laços sanguíneos, apesar das dificuldades com a família (Mc 3, 20-21) e pautar pela escuta e prática da Palavra do Pai, fazendo a sua vontade (Mc 3, 34). Quando compreendeu isso, se fez a discípula e participou da atividade missionária do Filho emprestando a ela o jeito e a sensibilidade femininos conforme vimos no relato das bodas de Canaã. Ela, com o olhar de mãe vê as necessidades e provoca o Filho a agir (Jo 2, 3ss). E permanece inspirando as mulheres a darem ao agir social e pastoral este jeito próprio que faz parte da índole feminina (cf. EG 103). O discipulado de Maria foi consequente até o fim. Corajosamente acompanhou o Filho no caminho do calvário e assistiu a sua crucificação e morte. Antes recebeu do Filho uma tarefa que demarcou a sua relação com toda humanidade. Ela se fez a mãe de todos os homens de mulheres (Jo 19,25). Segundo o Papa Francisco “aos pés da cruz, na hora suprema da nova criação, Cristo conduz-nos a Maria; conduz-nos a ela porque não quer que caminhemos sem uma mãe” (cf. EG 285).
A humanidade experimenta ao longo dos séculos a alegria de mais uma missão que Maria assumiu. Ela se fez a missionária do Pai. Logo após a ressurreição acompanhou o grupo dos discípulos nas decisões e projetos em vista do anúncio do Reino a pedido de Jesus (cf. Mt 28, 16ss). Reuniu-se com eles (At 1,14) e continua presente no meio do povo como a estrela da evangelização.
Assim como saiu da segurança do seu lar e foi apressadamente visitar e cuidar sua prima Isabel continuou ao longo dos anos visitando os filhos e filhas a ela confiados. Faz isso com uma intenção toda especial: revelar a presença materna cuidadora e protetora da vida. No rio Paraíba se deixou encontrar pelos pescadores e a partir da casa pobre onde foi acolhida irradiou esperança para o povo brasileiro, especialmente aqueles que estavam com a vida ameaçada. Nas novenas que se sucedem ela entra em cada casa e ali, pela, oração e reflexão, sustenta uma vida de devoção e fé, alento de muitas famílias. Assim como saiu de sua casa para cuidar de Isabel ela continua chegando até nós para cuidar de nossas vidas. Faz isso reforçando o compromisso assumido aos pés da cruz, ser a mãe da humanidade. Como mãe se preocupa com os mais fracos. Se a nossa devoção nos leva até Maria lembremos que ela sempre aponta para o Filho. O encontro com Ele é determinante na nossa vida de fé. E o encontro com o Filho nos leva a tomar outras atitudes especialmente no cuidado e proteção da vida pois Maria e o Filho nos convidam a ver, sentir compaixão e cuidar da vida ameaçada.