Tenho convicção de que a educação é, pelo construto de alteridade, enquanto caminho conjunto, criativo e participativo, eficaz para a humanização, pois, implica uma profunda dimensão de amabilidade e responsabilidade de sujeitos imbricados no processo desenvolvido. Geração à geração inquieta-nos o saber e as diversas possibilidades de compartilhar aprendizados e descobertas, não é verdade?
“Se hoje deixássemos os espaços educativos continuarem a reger-se pela lógica da substituição e repetição, incapazes de gerar e mostrar novos horizontes, onde a hospitalidade, a solidariedade intergeracional e o valor da transcendência fundamentem um nova cultura, não estaríamos porventura a falhar no encontro com a história?” Esta questão fora apresentada, estimado(a) leitor(a) jovem e ou adulto, pelo Papa Francisco no dia 15 de outubro de 2020, via mensagem de vídeo, à Pontifícia Universidade Católica Lateranense, por razão do encontro promovido pela congregação para a educação católica, ao abordar sobre o “global compact on education” (pacto global sobre educação).
Francisco reflete que “educar é sempre um ato de esperança que convida à comparticipação, transformando a lógica estéril e paralisadora da indiferença numa lógica diferente, capaz de acolher a nossa pertença comum”. É notável e compreensível que neste período pandêmico, por exemplo, a lógica clandestina do saber nos visite e, possivelmente, nos aprisione em inseguranças momentâneas; ou seriam recorrentes? Todavia, não é desculpa à criatividade e à resolução de históricos problemas educativos que cerceiam-nos, entende?
Compreendo a educação como um cateterismo cultural às veias sociais do coração civil, inúmeras vezes obstruído por mazelas obscuras ao esperançar! A construção humana integral exige-nos, é verdade, disciplina, leituras, abstenções muitas vezes, porém, abre-nos janelas no horizonte da vida, dentre uma realidade contemporânea com tantas portas trancadas à nós, sabe?
Desafiar-se, criativamente, à educação integral é indispensável, sobretudo hoje. Não se trata, como reflete Paulo Freire, em simplesmente “transferir conhecimento” nos espaços escolares. É importante descobrir-se aprendiz educador(a) e educando(a) diuturnamente, seja na dimensão científica, sejam nas relações afetivas da vida, do conhecimento e outras. Construir uma “identidade cultural” à sociedade humana no transcurso da história que peregrinamos, compreende? “Assumir-se como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque capaz de amar”, sugere Paulo Freire (Pedagogia da Autonomia, 2019, p. 42).
À quem compete tal tarefa? Todos(as) nós! Educar é compromisso humano, social, político, econômico, cultural, religioso e de todas as pessoas de boa vontade. E atenção, amada(o) jovem e ou adulto, ao pragmatismo utilitarista que arroga-se, sem delongas, ser superado. “A educação será ineficaz e os seus esforços estéreis, se não se preocupar também por difundir um novo modelo relativo ao ser humano, à vida, à sociedade e à relação com a natureza. Caso contrário, continuará a perdurar o modelo consumista, transmitido pelos meios de comunicação social e através dos mecanismos eficazes do mercado” (LS, n. 215).
Outrossim, vale refletir que, para além das universidades, das instituições de ensino fundamental e médio, “compete à política e às várias associações um esforço de formação das consciências da população. Naturalmente compete também à Igreja. Todas as comunidades cristãs têm um papel importante a desempenhar nesta educação” (LS, n. 214) integral humana e planetária. Fratelli Tutti, lembra? Na Casa Comum, isto é, no Planeta Terra, somos todos irmãos(ãs) responsáveis, em fraternidade e amizade social, pelo cuidado da vida.
“Hoje é-nos pedida a audácia necessária para ultrapassar visões extrínsecas aos processos educativos, superar as excessivas simplificações circunscritas à utilidade, ao resultado (padronizado), à funcionalidade e à burocracia, que confundem educação com instrução e acabam por fragmentar as nossas culturas; em vez disso, somos solicitados a procurar um cultura integral, participativa e poliédrica”, sugere Francisco. Mais! “Precisamos de ter a coragem de gerar processos que assumam, conscientemente, a fragmentação existente e os contrastes que efetivamente carregamos conosco; a coragem de recriar o tecido de relações em prol duma humanidade capaz de falar a linguagem da fraternidade”, como exorta o Sumo Pontífice, indicando a construção de uma nova cultura, a envolver todos(as) criativamente dentro de um processo plural e poliédrico, com responsáveis respostas, significantes em diálogo, em prol do bem comum.
Cabe a Doutrina Social, neste pacto global sobre educação, ser referência, inspirar e proporcionar bases sólidas e fontes vivas, construindo pontes, ao encontrar caminhos no mundo contemporâneo, carente de harmonia social. Tal investimento e processo formativo, com base na alteridade humana, numa rede de relações abertas, tem o compromisso gestacional de garantir às pessoas, todas, acesso a “educação de qualidade, à altura da dignidade da pessoa humana e da sua vocação à fraternidade” (Papa Francisco).
A educação é semente de esperança e carece, mais que plantada, estar na centralidade do processo educativo, no qual faz-se essencial, lembra Francisco, “ouvir a voz das crianças, adolescentes e jovens a quem transmitimos valores e conhecimentos, para construir juntos um futuro de justiça e paz, uma vida digna para toda a pessoa; favorecer a plena participação; ver na família o primeiro e indispensável sujeito educador; educar e educarmo-nos para o acolhimento, abrindo-nos aos mais vulneráveis e marginalizados; empenhar-nos no estudo para encontrar outras formas de compreender a economia, a política, o crescimento e o progresso, para que estejam verdadeiramente ao serviço do homem e da família humana inteira na perspectiva duma ecologia integral; guardar e cultivar a nossa casa comum, protegendo-a da exploração dos seus recursos, adotando estilos de vida mais sóbrios e apostando na utilização exclusiva de energias renováveis e respeitadoras do ambiente humano e natural, segundo os princípios de subsidiariedade e solidariedade e da economia circulante”. Coragem, seguimos juntos(as), neste aprendiz educar!
Padre Leandro de Mello - @padreleojuventude. Passo Fundo, 20 10 2020.