Dois momentos significativos para aos cristãos

Postado por: Ari Antônio dos Reis

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Nesta semana nos preparamos para dois momentos significativos, interligados e constitutivos dos compromissos da fé. Refiro-me às eleições municipais, enquanto oportunidade da escolha dos prefeitos e representações nas câmaras municipais de vereadores. E, não menos importante, a celebração do dia mundial do pobre, enquanto alerta para a realidade de pobreza e a necessidade de enfrentá-la. Sustenta esta iniciativa o princípio de que a opção pelos pobres é intrínseca à fé cristã (Bento XVI).

 A profissão de fé no Cristo Ressuscitado compreende de parte dos cristãos o compromisso com a transformação da realidade segundo os critérios do Reino de Deus. Estes dois momentos estão profundamente entrelaçados com o compromisso social que emerge da fé.

A Constituição Pastoral Gaudium et Spes, ao tratar do agir dos cristãos, os nomina como discípulos de Jesus que vivem o discipulado agindo no mundo. Diz o documento: “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração” (GS 1). O mandato de Jesus, acolhido pelos discípulos na Galileia (Mt 28,16), é continuado pelos cristãos da atualidade e isto compreende a fidelidade ao que Ele pediu e continua pedindo aos seus seguidores.

O agir político em diferentes dimensões é um dos caminhos importantes para se viver o compromisso cristão, porque visa o bem comum, sinal visível do Reino anunciado por Jesus. No período pré-eleitoral fomos orientados à atitude de escuta das propostas, à observação apurada dos candidatos e ao discernimento sobre a mais condizente para um bom mandato eletivo. No próximo dia 15 de novembro vamos dar um passo a mais neste processo de cidadania.  A democracia não se reduz à oportunidade de votar, contudo a chance de escolher de tempos em tempos as representações fortalece a democracia. Tenhamos presente a importância do nosso voto como contributo a boa política como meio eficaz de construção do bem comum. Em um documento publicado recentemente pela Arquidiocese de Passo Fundo, intitulado “eleições municipais: uma oportunidade para viver a caridade”, afirma-se que “as eleições municipais são uma oportunidade para refletir sobre a sociedade a ser construída, por isso, é preciso: analisar a realidade atual para perceber os acertos e os problemas; propor soluções; discernir e eleger as autoridades para governar o município”.

O segundo momento assinalado é o Dia Mundial dos Pobres, segundo orientação do Papa Francisco. Esta iniciativa vai para sua quarta edição e convida os cristãos e pessoas de boa vontade a darem-se conta da realidade de pobreza presente em todo mundo e a ter como critério de a ação o que sugere o lema:  “estende tua mão ao pobre” (Eclo 7,32), muito próximo ao lema sugerido para o mês da bíblia de 2020 “estende mão para o teu irmão” (Dt 15,11).

 O lema, extraído do livro do Eclesiástico, está entre uma série de orientações do autor para o seguimento dos desígnios divinos. Dentre elas, sugere o cuidado e atenção para com os pobres como forma de viver a bênção de Deus.  A sugestão contida no lema deve ser retomada com vigor nestes dias, especialmente no contexto brasileiro, onde a pobreza tem aumentado devido às políticas governamentais voltadas ao mercado e as consequências do Covid 19.

A mão estendida, diferente da mão recolhida, é uma proposta de diálogo amoroso, é a busca proximidade com uma pessoa marcada pelo infortúnio da pobreza. É o desejo de fazer alguma coisa, mesmo que aparentemente insignificante, mas um gesto de grande profundidade. Supera-se a omissão e a indiferença diante do sofrimento do outro. Na mensagem para este dia o Papa afirmou: Estender a mão é um sinal: um sinal que apela imediatamente à proximidade, à solidariedade, ao amor. Nestes meses, em que o mundo inteiro foi dominado por um vírus que trouxe dor e morte, desconforto e perplexidade, pudemos ver tantas mãos estendidas!

A mão estendida não é apenas uma mão. É a minha, a tua, é a mão da comunidade e da sociedade que se organizam para combater a pobreza. É a corrente de solidariedade voltada ao cuidado da vida empobrecida e maltratada. Não significa aplacar a consciência, mas deve ser indicativo de um compromisso maior, a superação da pobreza e dos mecanismos sociais e econômicos que geram a pobreza.  

A mão estendida ao pobre está acompanhada do olhar. A fé nos leva a olhar para Jesus, mas também leva a olhar para o pobre. É o fundamento da nossa vida de fé, porque Jesus sempre nos convida a dar um passo a mais. Precisamos constantemente voltar a este fundamento da fé em vista da fidelidade à proposta do Filho de Deus, aquele que se fez pobre para nos enriquecer (Bento XVI). A mão estendida ao pobre e olhar para Jesus provocam a coragem de tocar nas chagas de Cristo presentes nestas pessoas (Papa Francisco).

Estendendo a mão, olhando e interagindo com os pobres vamos nos abrindo ao caminho da conversão, que também compreende o agir político em vista do bem de todos.

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