Ele veio do deserto!

Postado por: Ari Antônio dos Reis

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Preparai o caminho do Senhor! (cf. Mc 1,3)

Nestas semanas do advento, tempo de preparação para o Natal do Senhor, temos a oportunidade de conhecer um pouco melhor João Batista, aquele que anunciou Jesus como o salvador da humanidade. Alguns textos da Sagrada Escritura sustentam a ligação familiar de João Batista e Jesus, pois ele seria filho de Isabel, prima de Maria (Lc 1, 36. 39-45. 57-63;). Existe também uma ligação profunda pelo projeto salvador desejado por Deus. Jesus, o Filho de Deus, afirmou que entre os nascidos de uma mulher não apareceu ninguém maior que João (cf Mt 11, 7-15). Reconheceu o testemunho de João Batista, o se predecessor.

O Advento oportuniza compreender o sentido da missão de João. Os evangelistas afirmam que João é o profeta que veio do deserto convidando a humanidade a preparar o caminho do Senhor (Mc 1, 1-8. Lc 3, 1-9; Mt 3, 1-12; Jo 1,19-28). Por que teria vindo do deserto?

Compreendamos o deserto como algo além que um lugar geográfico, comum na terra de Jesus. Em várias passagens do texto bíblico aparece a expressão deserto. Uma das mais significativas refere-se à travessia que povo de Deus fez, quando deixou a escravidão do Egito, rumo à terra prometida. Neste caso o deserto é compreendido como um espaço pedagógico, o lugar da desconstrução de uma mentalidade antes marcada pela influência egípcia, da qual o povo eventualmente sentia saudades, e a construção de um projeto de vida alternativo, assentado na liberdade do povo, economia e poder partilhados, e fidelidade ao único Deus. Compreendamos neste contexto o deserto como lugar da transição, o espaço de construção de uma nova forma der relações entre o povo e com Deus. A travessia no deserto foi uma necessidade pedagógica para aquele povo.

Os evangelistas também mencionam o deserto como um lugar de passagem para Jesus. Segundo os Evangelhos Sinóticos, antes de assumir a missão, ele passou 40 dias no deserto em oração. Era o espaço para escutar Deus, mas também com risco de ser tentado pelo demônio.  E foi. Aqui o deserto surge como o espaço do auto enfrentamento, tendo como critério o projeto do Pai. Vê-se que as propostas do tentador colocavam Jesus confrontando o seu Pai. Era possível que assumisse outros projetos que não o projeto fruto do desígnio divino. E ele, no deserto, foi superando estas tentações antes de se iniciar a missão.

No caso de João Batista, retratado nos Evangelhos, vemos o deserto como o lugar de onde surge um novo princípio de vida para a humanidade. Ele é apresentado como o homem que vinha do deserto testemunhando com palavras e com seu jeito de ser outros caminhos possíveis. Estes eram a condição para acolher Jesus. Compreendiam a conversão e arrependimento dos pecados, seguido do batismo (baptizein ou mergulho). A conversão e o arrependimento dos pecados, somados à opção pelo caminho proposto por João, dariam às pessoas as condições para mergulhar (batismo) na outra proposta.    

Possamos ver neste tempo de preparação para o Natal a oportunidade de nos prepararmos para acolher o Salvador.  O testemunho de João nos ajuda neste caminho. Superemos a tentação de um Natal sem Jesus, o que não deixa de ser um deserto porque a ausência do Filho de Deus em nossas vidas nos compromete com outros projetos, aparentemente melhores, contudo sem uma base maior e rompidos com a proposta do Reino. Para tanto precisamos escutar Deus como o povo o fez na travessia para a terra prometida (Ex 15, 22) e como Jesus o fez no seu tempo de recolhimento (Mt 4, 1-13).

 João Batista veio do deserto para no ajudar sair de um deserto que é a vida sem o Filho de Deus. Façamos silêncio e escutemos o que ele diz.

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