RABISCOS SEMANAIS: Que presente darei?

 22/12/2020 - 09:20hrs
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Presentear é um gesto de afeto, respeito, admiração e ou gratidão. Certamente, receber presentes é-nos menos inquietante do que a possibilidade de escolher o que oferecer, não é verdade? Festividades natalinas, isto é, celebrar o aniversário de uma pessoa próxima, caracteriza-se pela fraterna e amistosa possibilidade de encontrar-se e ofertar presentes. Daí emerge a dúvida: que presente dar?

Havendo frequente convivência, com facilidade, escolhe-se algo para compartilhar, mesmo que seja de valor econômico insignificante, uma vez que, o que torna-se importante é o sentido sugerido ao gesto de entregar tal recordação. Deste nobre sinal nasce a gratidão. Ser grato é característica ímpar à dignidade humana em construção na alteridade de sujeitos.

Ao celebrar a vida, o nascimento, a conclusão de uma etapa educacional, a união conjugal, a opção vocacional e outras tantas datas importantes à vida humana em sociedade, rende-se ação de graças. Agradecer conquistas e confraternizar processos vividos, seja entre familiares, amigos ou outros grupos de relação, permite-nos cuidar da alegria e da esperança. Ambas nutrem nosso existir, fortalecendo o sentido da continuidade da caminhada social, cultural, familiar rumo ao horizonte último, o transcendente. 

O ambiente familiar, por certo, é um dos primeiros locais propícios para experiências de partilha, diálogo, mútuo aprendizado, troca de afetos e gestos gratuitos. A Doutrina Social da Igreja, recorda ser “tarefa da comunidade cristã e de todos aqueles que tomam a peito o bem da sociedade reafirmar que ‘a família constitui, mais do que uma unidade jurídica, social e econômica, uma comunidade de amor e de solidariedade, insubstituível para o ensino e a transmissão dos valores culturais, éticos, sociais, espirituais e religiosos, essenciais para o desenvolvimento e o bem-estar dos próprios membros e da sociedade’” (CDSI, n. 229). Cabe perguntar, neste natal 2020, que presente darei à sociedade, através da família a qual participo?

A sagrada escritura nos ensina que Deus amou tanto o mundo que presenteou-nos com seu próprio filho para que tenhamos vida (Jo 3,16) e não uma vida qualquer, mas plena, vida em abundância (Jo 10, 10). Como não é possível amar sozinho, Deus Uno e Trino, escolheu-nos como expressão deste amor. Ao nascer criança pelo ventre maternal e, nos braços paternos, respirar vida nova à humanidade, enriquece-nos com inefável valor. Ora, “recém-nascidas, as crianças começam a receber em dom, juntamente com o alimento e os cuidados, a confirmação das qualidades espirituais do amor. Os gestos de amor passam através do dom do seu nome pessoal, da partilha da linguagem, das intenções dos olhares, das iluminações dos sorrisos” (AL, n. 172).

A relação estabelecida entre pessoas, pais/mães e filhos(as), irmãos(ãs), amigos(as) e outros(as), permite-nos aprender “que a beleza do vínculo entre os seres humanos mostra a nossa alma, procura a nossa liberdade, aceita a diversidade do outro, reconhece-o e respeita-o como interlocutor. (...) E isto é amor, que contém uma centelha do amor de Deus” (AL, n. 172). É presença e presente do transcendente à nós, todos(as). Na pequenez e vulnerabilidade do ser criança Deus nos presenteia com a vida para que, como Jesus, na alteridade do cuidado familiar e societário, possamos crescer adolescentes e jovens saudáveis “em sabedoria, estatura e graça” (Lc 2, 52).

Na fraternidade e amizade social vos abraço, oferecendo-lhes o desejo de um abençoado e corajoso natal, amigos(as) e irmãos(ãs), leitores(as), crianças, adolescentes, jovens, adultos e anciãos. Que presente vos darei? “Não tenho ouro nem prata, mas o que tenho lhe(s) dou: Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, caminhe” (At 3, 6) à Civilização do Amor! Neste andar é prudente considerar que “a ternura é a melhor forma para tocar o que há de frágil em nós” (Papa Francisco) e nos edificar!  

 

Padre Leandro de Mello - @padreleojuventude. Passo Fundo, 22 12 2020.

 

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