Certa vez, um sapateiro foi consultar um médico, pois sofria dores terríveis e parecia estar à morte. O médico examinou-o cuidadosamente, mas não conseguiu definir um tratamento que o pudesse ajudar. O paciente perguntou angustiado:
- Não há nada mais que me possa salvar?
O médico respondeu-lhe:
- Infelizmente, eu não conheço nenhum outro recurso.
Ao ouvir isso, o sapateiro concluiu:
- Já que nada mais pode ser feito, tenho apenas um desejo final. Gostaria de uma panelada de dois quilos de feijão graúdo e de um litro de vinagre.
O médico sacudiu os ombros, resignado:
- Não creio muito nessa ideia, mas, se acreditas que pode ajudar, segue em frente e experimenta.
Durante toda a noite, o médico aguardou notícias da morte do pobre homem. Porém, na manhã seguinte, para espanto do doutor, o sapateiro acordou forte e ativo. O médico, então, escreveu em seu diário: "Hoje veio a mim um sapateiro pelo qual nada podia ser feito. Mas dois quilos de feijão e um litro de vinagre ajudaram-no a melhorar."
Pouco tempo depois, o médico foi chamado para atender um alfaiate mortalmente enfermo. Nesse caso, outra vez, o doutor viu-se perplexo. Sendo homem honesto, admitiu ao alfaiate a impossibilidade de ajudá-lo.
O moribundo implorou:
- Mas não conhece o senhor nenhuma outra cura possível?
O médico pensou um pouco e revelou, num desabafo:
- Não, mas recentemente um sapateiro procurou-me, queixando-se de problemas semelhantes. Ele foi ajudado por dois quilos de feijão e um litro de vinagre.
- Bem, se não há outro remédio, vou experimentar esse mesmo - replicou o alfaiate.
Ele comeu os feijões com vinagre e morreu no dia seguinte. Visto isso, o médico anotou em seu diário: "Ontem um alfaiate me procurou. Nada podia ser feito por ele. Então ele comeu dois quilos de feijão com um litro de vinagre e acabou morrendo. O que é bom para sapateiros não serve para alfaiates."