Entramos no ano de
2021 alimentados pela esperança de que seja um ano bom. No horizonte temos
algumas preocupações e temos muitos motivos para esperança. Uma boa novidade
noticiada na virada de ano foi a consolidação e a aplicação das vacinas contra
o Covid 19, já em estágio avançado em vários países. Depois de um período de
insegurança geral, pequenas lamparinas começam se acender num caminho que aparentemente
sombrio e de muita preocupação.
No prazo de doze meses passamos por muitas mudanças em nosso agir e a maioria delas foi causada pela disseminação do Covid 19. Extraindo a guerra de interpretações sobre a origem da pandemia, fomos influenciados no cotidiano pela sua presença e a exigência de cuidados especiais para não sermos vítimas de contaminação. Foi o tempo da paciência e do cuidado.
Superando o período atípico pelo qual passamos, entramos no novo ano alentados pela realidade da vacina que pode dar-nos alguma segurança. A travessia feita convidava a buscar sustentação em duas referências com as quais a humanidade tem lidado ao longo dos séculos, a ciência e a fé.
A ciência se viu desafiada em um primeiro momento a entender o processo do vírus em vista da recomendação de como a população deveria agir para se preservar. O uso das máscaras, a insistência do hábito de lavar as mãos e manter a higiene corporal e do vestuário foram recomendações simples, eficazes e muito importantes na esfera pessoal. Apesar das resistências, estes hábitos se disseminaram. Outras recomendações envolviam a esfera coletiva. Sugeria-se evitar as aglomerações devido à rápida disseminação do vírus. Uma pessoa contaminada, mesmo que assintomática, poderia contaminar várias outras. Esta recomendação foi mais exigente e de difícil execução pelas implicâncias na economia e também pelas resistências de parte da população em mudar os hábitos sobretudo no que diz respeito ao lazer e ao entretenimento.
O outro desafio da ciência foi conhecer a estrutura genética do vírus para combatê-lo. Cada novidade trazia um alento. Aqui compreendemos o difícil caminho da ciência e que ela não tem todas as certezas. Segue seu caminho com erros e acertos, assumindo a responsabilidade de dar uma resposta para a humanidade. Entramos no novo ano mais animados e devemos agradecer o trabalho dos cientistas sem desconhecer o árduo trabalho dos profissionais ligados à saúde que muito se esforçaram em salvar vidas e aliviar as sequelas da enfermidade.
A fé também foi desafiada. Compreendemos por fé o acreditar em algo transcendente. Para os cristãos é o Deus da vida que deve ser visto além da materialidade da experiência terrena e das demonstrações visíveis e quantificáveis. A fé compreende a atitude pessoal do sujeito acreditando na providência divina guiando e sugerindo a normatividade da sua vida. É acreditar no Deus que se encarnou na história humana para conduzi-la à salvação (Jo 1,1). Então a fé permite o diálogo com Deus acreditando na sua interferência na vida humana porque ele é amor (1 Jo 4,8) e quer o bem dos homens e mulheres. Por isso rezamos. Rezamos porque acreditamos no poder divino guiando nossas vidas. O próprio Filho de Deus incentivava a oração a partir das necessidades humanas (Lc 11,9-13) condizentes com o reino por Ele anunciado. A oração tem a dimensão do consolo, da corresponsabilidade pela obra de Deus, da comunhão na mesma fé com tantos irmãos. A oração também é um caminho constante de conversão à causa do Reino anunciado por Jesus. Por isso, ela opera a transformação na vida da pessoa orante.
Enquanto humanidade confiamos no agir da ciência. Enquanto cristãos também fomos instados a acreditar na força maior agindo junto à humanidade, respeitando seus processos solidarizando-se como eles. A fé permitiu avançarmos no mar de dúvidas e incertezas com a esperança na superação das dificuldades. Fizemos a travessia difícil do ano de 2020 movidos pela confiança na ciência como serviço à humanidade e alimentados na esperança que a fé permite. As respostas às preocupações humanas nem sempre surgem na rapidez esperada, mas a partir de um processo ascendente fundado na convicção do agir divino.
Certamente tivemos muitos aprendizados, pessoais e coletivos. Aos poucos vamos rememorando estes aprendizados. Que nos façam melhores. Aos poucos vamos superando este vírus que desnudou a nossa fragilidade. Temos como aliadas a ciência e a fé. Elas não são auto excludentes. Assumem processos diferenciados voltados ao ser humano no enfrentamento das dificuldades da vida.
Mas a jornada não se encerra aí. A humanidade enfrenta outros males os quais têm fonte geradora diversa. O covid 19 foi mapeado cientificamente e o antídoto está sendo produzido. Entretanto a fome, a violência e tantos outros “vírus” continuam matando no Brasil e no mundo. O que fazer para superar estes males tão letais quanto o Covid 19?
Diante desses desafios tenhamos a coragem de ser as pequenas lamparinas acesas por Deus diante dos contextos sombrios onde a vida é ameaçada. A interação da fé com a ciência aliada ao compromisso de cada ser humano ajudará manter estas lamparinas acesas.