A Igreja e o compromisso com a caridade

Postado por: Ari Antônio dos Reis

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Todas as vezes que vocês fizeram isso a um dos menores dos meus irmãos, foi a mim que o fizeram (Mt 25,40)

A caridade é uma das dimensões mais profundas da nossa vida de fé. Na carta do apóstolo Paulo aos Coríntios (1Cor 13, 1-13) ele afirma a caridade como a dimensão maior da experiência cristã. O agir cristão passa pela experiência da caridade, a capacidade de sermos “pessoas cântaro”, dando de beber aos sedentos mesmo enfrentando dificuldades (cf. EG 86). O tempo da quaresma, junto à dimensão penitencial, sugere a intensificação da caridade. Em tempos de tantas dificuldades esta ação é urgente.  

Uma das polêmicas levantadas em torno da Campanha da Fraternidade diz respeito à coleta de Domingo de Ramos, historicamente direcionada às obras sociais, sobretudo atividades que permitem a assistência aos pobres e projetos de geração de renda, em vista da autonomia financeira, ou seja, permitir as condições para sobreviverem com dignidade. Os projetos enviados para o Fundo Nacional de Solidariedade passam uma seleção rigorosa antes de serem aprovados e devem estar em profunda consonância com a doutrina da Igreja. Exige-se também a prestação de contas da aplicação da verba em sintonia com o projeto aprovado. Valoriza-se muito o dinheiro que é fruto da generosidade dos cristãos católicos e pessoas de boa vontade. Nesse sentido o Fundo Nacional está em profunda comunhão com o sonho dos idealizadores da Campanha da Fraternidade (1962), que buscavam articular as forças cristãs para superar a situação de pobreza e miséria no sertão nordestino, especificamente o estado do Rio Grande do Norte.

O serviço de caridade organizado pela Igreja Católica vai além da articulação das coletas da Campanha da Fraternidade e sua destinação. O cuidado com os pobres, desde das origens do cristianismo um compromisso irrenunciável, próprio de quem se dispõem seguir Jesus. Recordemos a disposição dos apóstolos em encontrar pessoas com capacidade de atender os pobres em nome da comunidade (cf. At 6,1-6). Ao falar na abertura da Conferência de Aparecida o então Papa Bento XVI afirmou que “a opção pelos pobres está implícita na fé cristológica naquele Deus que se fez pobre por nós, para nos enriquecer com a sua pobreza” (DAp p. 273).

Tudo o que fazemos pelos pobres contribui para o fortalecimento da vida fé, porque estamos fazendo a Jesus Cristo mesmo (Mt 25,40). Afirmar que o trabalho de caridade com os pobres tem um viés político, dessa ou daquela ideologia partidária, é minimamente desconhecimento do evangelho e da tradição cristã e sustenta-se no pecado de relegar o compromisso religioso a uma intimidade secreta, sem uma abertura à realidade social marcada por graves injustiças (cf. EG 183).

A partir desse compromisso a Igreja tem levado para frente o trabalho de cuidado e resgate da vida humana, sobretudo a vida mais fragilizada através das diferentes obras. Em nível mundial são: 5.167 hospitais católicos; 15.699 casas para pessoas idosas; 10.124 orfanatos (instituições de acolhimento de crianças e adolescentes); 11.596 enfermarias; 14.744 consultórios de orientação familiar; 115.352 institutos beneficentes e assistenciais.

 No Brasil, segundo dados da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Social Transformadora, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, CNBB, são 500 Institutos e obras religiosas voltadas ao serviço de caridade; existem 1026 sedes no Brasil voltadas ao atendimento dos pobres e pessoas carentes; os mais de 400 milhões de atendimentos anuais atingem em média 88 % dos pobres do Brasil. Outro dado significativo é o serviço voluntário. Estão em ação cerca de 500 mil voluntários nas obras sociais mantidas pela Igreja Católica. Através das 26 pastorais sociais são realizados 107 milhões de atendimentos que atingem um universo de 10 milhões de famílias e ou 30 milhões de pessoas. Destaco o trabalho da Pastoral da Criança que com uma ação muito simples ajudou a salvar a vida de muitas crianças e o trabalho da Pastoral da Pessoa Idosa, voltado ao cuidado e atenção dos idosos em situação de pobreza. Em uma perspectiva estruturada nas comunidades paroquiais temos o trabalho da Caritas que presta um valioso serviço de assistência, formação e estruturação para que as famílias empobrecidas busquem a autonomia financeira.  Estas diferentes pastorais sociais significam a Igreja presente nas fronteiras da evangelização, cuidando da sobrevivência física e cultivando o bálsamo da fé (cf. DAp 550), visto que, tão grave quanto o abandono social é o abandono religioso e a opção pelos pobres deve-se traduzir, principalmente, numa solicitude religiosa privilegiada e prioritária (cf. EG 200).

Não esqueçamos os pequenos gestos cotidianos articulados por comunidade e paróquias voltados ao que é básico para muitos pobres e miseráveis, matar a fome.

 É o compromisso de fé, pessoal e comunitário que nos leva a fazer o bem. E o bem feito se funda no evangelho.

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